Turquia | Geografia, História e Cultura da Turquia


Turquia | Geografia, História, Economia, Sociedade e Cultura da Turquia

Turquia, Geografia, História e Cultura da TurquiaA Turquia é o mais ocidentalizado dos países de população muçulmana. A Turquia procura estreitar laços com a Europa. Sua adesão à União Europeia (UE), porém, vem sendo adiada pelo bloco há duas décadas. Entre os obstáculos estão situações internas de violação aos direitos humanos, o conflito com a Grécia na ilha de Chipre e a intensa repressão aos separatistas do Curdistão, que já deixou cerca de 30 mil mortos desde os anos 1980. O território turco espalha-se por dois continentes: Europa e Ásia. A porção europeia – apenas 3% da área – separa-se da asiática pelo estreito de Bósforo. A estratégica passagem entre o mar Negro e o mar Egeu divide Istambul (antiga Constantinopla) em duas. Metrópole cultural do país e ponto de contato entre o Ocidente e o Oriente Médio, a cidade conserva as marcas das civilizações que a ocuparam. Templos de divindades greco-romanas convivem com a arte bizantina e o estilo islâmico, com destaque para a antiga Catedral de Santa Sofia e a Mesquita Azul. As montanhas irregulares com seus cumes cobertos de neve e as praias ensolaradas estimulam o turismo.

Situada em parte na Ásia em parte na Europa, a Turquia é o mais ocidentalizado dentre todos os países que formam o mundo islâmico. Desde a década de 1920 aproximou-se bastante da Europa e, nas duas últimas décadas do século XX, lutou por ser admitida na União Europeia.

A Turquia é um país do Oriente Médio situado em sua maior parte na Anatólia e numa pequena região da Europa (Trácia oriental). Com uma superfície aproximadamente retangular de 779.452km2, o país limita-se ao norte com o mar Negro e a Bulgária; a oeste, com a Grécia e o mar Egeu; ao sul, com o mar Mediterrâneo, a Síria e o Iraque; e, a leste, com o Irã, a Geórgia e a Armênia. A Turquia europeia e a asiática estão separadas pelo pequeno mar de Mármara, que se comunica com o Egeu pelo estreito de Dardanelos e, com o mar Negro, pelo Bósforo.

Turquia | Geografia, História e Cultura da TurquiaGeografia física da Turquia

Geologia e relevo. A maior parte da Anatólia é formada por um planalto central cercado de montanhas jovens. Os montes Pônticos se estendem ao norte, paralelos à costa do mar Negro, e a cordilheira do Taurus, ao sul. A Anatólia central, confinada entre essas duas formações montanhosas, é uma planície recortada por várias bacias interiores. Na oriental, situa-se o maciço da Armênia, com várias elevações de origem vulcânica, a maior das quais é o monte Ararat, de 5.137m de altitude, ponto culminante do país. Já a Anatólia ocidental apresenta cadeias alongadas e separadas por depressões. Os planaltos em torno de Istambul, no noroeste da Turquia, são cortados por vales profundos, como os ocupados pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos.

Clima. São quatro as regiões climáticas da Turquia. O litoral meridional e ocidental tem clima mediterrâneo e temperatura média elevada (29°C) em julho. No norte, o litoral do mar Negro apresenta verões amenos e invernos relativamente frios, com chuvas abundantes. No interior, o clima seco caracteriza-se por grandes variações de temperatura entre o inverno e o verão. No litoral do mar Egeu e do Mediterrâneo, os invernos são amenos e os verões quentes. As chuvas são escassas e há longos períodos de estiagem.

Turquia em números – Área: 779.452 km². Hora local: +5h. Clima: mediterrâneo (litoral e S) e temperado continental (N). Capital: Ancara. Cidades: Istambul (9.000.000), Ancara (3.300.000) (aglomeração urbana), Izmir (2.320.000), Bursa (1.270.000), Adana (1.200.000) (2015). 


Hidrografia

Boa parte da Anatólia é formada por bacias interiores, como a do extenso lago Van, salgado e situado a 1.720m de altitude na parte leste do país. Os principais rios do norte são o Sakarya, o Kizil Irmak e o Yesil, que desembocam no mar Negro. O Simav deságua no mar de Mármara; o Gediz e o Büyükmenderes, no Egeu; e o Seyhan e o Orontes, este procedente da Síria, no Mediterrâneo. No leste, nascem o Tigre e o Eufrates, que desembocam no golfo Pérsico. Outros rios, como o Aras, pertencem à bacia interior do mar Cáspio.

Vegetação e fauna. Florestas de coníferas recobrem as montanhas do norte e as planícies litorâneas. No litoral do Egeu e do Mediterrâneo, a vegetação é arbustiva do tipo mediterrâneo. Nos planaltos, a vegetação natural é a estepe, enquanto nas regiões menos favorecidas pelas chuvas, é a semidesértica. São árvores típicas o carvalho, o pinho, o cedro, a palmeira e o abeto. A fauna é a característica do Mediterrâneo oriental. As espécies selvagens das regiões de floresta incluem lobos, raposas, javalis, gatos monteses, castores, martas, chacais, hienas, veados e cabras montesas. Animais domesticados típicos são o búfalo, a cabra angorá e o camelo.


População da Turquia

A partir do século XI, a população, predominantemente mediterrânea, ganhou um forte componente mongólico, devido à miscigenação com mongóis oriundos da Ásia central. Atualmente, o tipo mediterrâneo predomina nas zonas costeiras. A minoria étnica mais importante são os curdos, que se fixaram no extremo leste. Há também uma pequena colônia árabe junto à fronteira da Síria, além de comunidades armênias, gregas e judias.

A língua oficial é o turco, falado por cerca de noventa por cento da população. O restante fala principalmente o curdo, o árabe e o grego. A língua turca começou a se modernizar no final da década de 1920, com a substituição do alfabeto árabe pelo latino. O islamismo, sobretudo do ramo sunita, é professado por quase toda a população. Há pequenas minorias cristãs e judias, principalmente em Istambul, Ankara e Esmirna.

População em números – 76 milhões (2015); nacionalidade: turca; composição: turcos 80%, curdos 18%, árabes 1,5%, outros 0,5% . Idiomas: turco (oficial), curdo. Religião: islamismo 97,2%, sem religião 2%, outras 0,7%, ateísmo 0,1%. Moeda: lira turca.
Mapa da Turquia




A crescente industrialização das zonas urbanas favoreceu um intenso êxodo rural para as grandes cidades costeiras e a capital, Ankara, situada no interior. Istambul é a maior metrópole do país. Zonguldak, centro de uma região mineradora e industrial, Esmirna, junto ao mar Egeu, e Adana e Mersin, na costa sul, cresceram bastante nas últimas décadas do século XX. Outras cidades importantes são Eskisehir, Bursa e Antalya, no oeste, e Samsun, Malatya e Erzurum, no leste.


Muitos trabalhadores emigraram, a partir da década de 1960, para a Europa ocidental, especialmente para a Alemanha. Na década de 1970, registrou-se também a emigração de trabalhadores para países árabes ricos em petróleo. Na maioria, eram imigrantes temporários, que ao fim de alguns anos regressavam.


Economia da Turquia

Na década de 1930, o estado tornou-se um dos maiores investidores na industrialização do país. Grande parte dos recursos econômicos permaneceu em poder do estado por um longo período, mas nas décadas de 1970 e 1980 o governo conferiu importância crescente ao investimento privado nesse setor.

Bandeira da Turquia
Agricultura e pecuária. A agropecuária é responsável por vinte por cento do produto interno bruto e emprega quase metade da força de trabalho. A Turquia é grande produtora de cereais, principalmente trigo, cevada e milho. Algodão e fumo são os principais produtos de exportação. Outros cultivos importantes são beterraba, batata e uva. As terras costeiras do oeste e sul são aproveitadas intensivamente, com irrigação artificial, para a produção de frutas e verduras, também destinadas à exportação. A pecuária ovina, e, em menor escala, a bovina e caprina têm considerável importância econômica.

Energia e mineração. As limitadas reservas de petróleo, que só atendem a um sexto das necessidades nacionais, obrigam a Turquia a despender grande parte de suas divisas na importação do produto. Dois terços da eletricidade consumida são gerados por usinas termelétricas e um terço por hidrelétricas. Existem reservas de carvão, linhito, ferro, cromo, antimônio, asbesto, cobre, mercúrio, manganês, enxofre, chumbo, zinco, barita, minérios de boro, magnesita etc.

Indústria. Dez por cento da mão-de-obra turca está empregada na indústria, setor responsável por um quinto do produto interno bruto. A produção de lã e algodão tornou a indústria têxtil o setor de maior crescimento industrial durante as décadas de 1960 e 1970, apesar da baixa produtividade. A indústria petroquímica, assim como a mecânica, expandiu-se rapidamente na década de 1980, e a Turquia tornou-se o maior produtor de aço do Oriente Médio. O turismo, procedente sobretudo da Europa ocidental, adquiriu um grande desenvolvimento em torno das cidades históricas e nas praias do Egeu e do Mediterrâneo.

Transporte e comunicação. O tráfego marítimo de passageiros e mercadorias entre as cidades costeiras é intenso na Turquia. O transporte ferroviário está a cargo da Estrada de Ferro Estatal da República da Turquia. O principal entroncamento ferroviário e rodoviário do país é Ankara. As ferrovias servem aos maiores portos turcos: Istambul, no Bósforo; Esmirna, no mar Egeu; Mersin e Iskenderun (Alexandria), no Mediterrâneo; e, no mar Negro, Zonguldak, Samsun e Trebizonda, que se comunicam com o interior. O aeroporto de Ankara concentra os vôos domésticos, enquanto o de Istambul, o tráfego internacional.


História da Turquia

Os mais antigos indícios de ocupação humana na atual Turquia ocorrem numa pequena área de Antalya, no litoral do Mediterrâneo. São desenhos de animais em cavernas, análogos à arte do paleolítico superior na Europa ocidental. O desenvolvimento da pecuária e da agricultura, assim como a urbanização, aspectos característicos do neolítico, começaram em algumas regiões da Anatólia antes de 7000 a.C.

Na Antiguidade, diversos povos ocupam a região da Anatólia, atual Turquia. A cidade de Bizâncio, fundada pelos gregos no século VIII a.C., é conquistada pelos romanos no fim do século I da Era Cristã. Em homenagem ao imperador Constantino, a cidade passa a se chamar Constantinopla e vem a ser a sede do Império Bizantino entre 395 e 1453. Nesse ano, é conquistada pelos turcos, que dão a ela o nome de Istambul. O domínio turco marca a queda do Império Bizantino. Originários provavelmente do norte da China, os turcos convertem-se ao islamismo no século XI e criam, posteriormente, o Império Turco-Otomano, que se estende do rio Indo ao mar Mediterrâneo e dura do fim do século XIII ao início do XX. Seu nome faz referência a Otman I, que, por volta de 1300, amplia o domínio da fé islâmica com a desintegração das fronteiras do Império Bizantino. Sob o domínio turco-otomano, Istambul torna-se a capital do mundo.

Por volta de 1900 a.C., grande parte da região foi ocupada pelos hititas, povo indo-europeu que formou um poderoso império até o século XIII a.C. Mais tarde, frígios e lídios invadiram a parte oeste da região, enquanto na oriental se consolidava o reino de Urartu, origem do atual povo armênio. No século VI a.C., os persas aquemênidas tomaram o país e dominaram as cidades gregas que se tinham consolidado vários séculos antes, no litoral.

A conquista do império persa por Alexandre o Grande, dois séculos depois, motivou uma intensa helenização da Anatólia. Roma se apoderou de quase todo o território no século I a.C., embora o reino armênio, entre as terras romanas, a oeste, e o reino dos partos, a leste, continuasse independente. No século IV da era cristã, Constantino o Grande elegeu como capital a antiga cidade grega de Bizâncio (hoje Istambul), estrategicamente situada na entrada do mar Negro. Rebatizada com o nome de Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente, ou bizantino, logo se tornou a maior cidade da Europa.

Turcos. No século XI, grupos de guerreiros turcos procedentes das estepes asiáticas, os Ghuzz (ou Oghuz), invadiram o país. Em 1071, a batalha de Manzikert, na qual o imperador bizantino foi derrotado, abriu a Anatólia à penetração turca. Os invasores se organizaram em vários estados rivais, entre os quais se firmou o dos turcos seldjúcidas. Na primeira metade do século XIII, quando a população turca, de religião islâmica, predominava sobre a grega, cristã, o império foi invadido pelos mongóis. Apesar de curto, o império mongol conseguiu enfraquecer a estrutura política do sultanato seldjúcida, que, ao fim de várias décadas, deu lugar a outra potência dominante, o estado turco-otomano.

Durante os séculos XIII e XIV, os turcos otomanos dominaram quase inteiramente a Anatólia e começaram a se expandir pela Europa, primeiro nos Balcãs. Constantinopla se manteve independente até 1453, ano em que foi conquistada e se tornou a capital do império, com o nome de Istambul. O império otomano alcançou seu apogeu sob Suleiman o Magnífico, de 1520 a 1566, quando chegou a abranger os territórios da Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Arábia, Mesopotâmia, Anatólia, Balcãs e Crimeia.

Declínio otomano. Após o reinado de Suleiman, o império começou a declinar política, administrativa e financeiramente. Em 1718, a Áustria expulsou os turcos da Hungria, e, em 1783, a Rússia anexou a Crimeia. O século XIX viu nascer um sincero desejo de reformas por parte dos monarcas otomanos, com a finalidade de devolver ao império seu antigo esplendor. Selim III, que desejava ocidentalizar o país, empreendeu reformas na administração e nas forças armadas, mas teve de enfrentar a guerra contra Napoleão, revoltas internas e um novo conflito com a Rússia.

Descontentes com a reforma, os janízaros destronaram o sultão em 1807. Mustafá IV anulou todas as reformas, mas como a anarquia continuasse, foi destronado no ano seguinte e substituído pelo irmão Mahmud II, que restabeleceu a ordem e as medidas progressistas. Os janízaros novamente se revoltaram e forçaram o sultão a cancelar as reformas. Nessa época teve início a luta com a Grécia pela independência. Com o auxílio da armada egípcia, os turcos derrotaram os gregos em 1827, mas as potências ocidentais intervieram. Em 1828 a Rússia declarou guerra à Turquia, que, enfraquecida, teve de aceitar os termos do armistício no ano seguinte e do Tratado de Londres (1832), que tornava a Grécia um reino independente.

Esses reveses estimularam várias revoltas internas, entre as quais a mais séria foi a do Egito, cujo governador, Mohamed Ali Paxá, pretendia apossar-se do império e fundar nova dinastia. Mediante concessões, Mahmud obteve o apoio da Rússia para deter a marcha das forças egípcias (1833). Após uma trégua, a luta prosseguiu. Quando Abdul-Mejid I ascendeu ao trono, o Egito estava prestes a apoderar-se do império em dissolução.

Com a intervenção das potências ocidentais foi assinado um acordo (1840), pelo qual Mohamed Ali fundava uma dinastia no Egito, sem prejuízo dos direitos soberanos da Turquia. O ministro do Exterior de Abdul-Mejid I empreendeu então uma série de importantes reformas, que modernizaram o país. Preocupada com o fortalecimento turco e aproveitando-se da questão religiosa em torno dos lugares santos, a Rússia enviou ultimato a Constantinopla exigindo o reconhecimento de seu direito de proteger os ortodoxos da Turquia. Por não ser atendida, iniciou hostilidades.

A intervenção do Reino Unido, França e Áustria, ao lado da Turquia, deu início à guerra da Criméia (1854-1855), que terminou com o Tratado de Paris (1856), cujos termos garantiram a integridade do território turco. Abdul-Aziz, que ascendeu ao trono em 1861 e continuou a política reformista, enfrentou revolta nos Balcãs. No fim de seu governo, a situação financeira do país era crítica. Em junho de 1865, formou-se em Istambul a Sociedade dos Novos Otomanos -- origem do movimento que a Europa conheceria com o nome de "jovens turcos" -- cuja finalidade era transformar o império em monarquia constitucional.

Século XX. A revolução dos "jovens turcos", em 1908, tentou conter, sem êxito, o desmoronamento do império otomano, que continuou a sofrer perdas militares e territoriais nos Balcãs. Aproveitando-se da guerra ítalo-turca, em 1911, a Bulgária, a Sérvia e a Grécia, sob a égide da Rússia, formaram uma aliança ofensiva tendo em vista libertar os cristãos macedônios. Assim, em outubro de 1912, numa campanha relâmpago, a Turquia foi derrotada, perdendo toda a Macedônia.

A tomada de Adrianópolis, mais tarde, obrigou os otomanos, em 1913, a desistirem de toda a Turquia européia, com exceção de uma pequena porção da Trácia oriental. A partilha dos despojos, porém, criou conflitos entre os aliados de véspera e deu origem à segunda guerra balcânica, quando a Bulgária foi derrotada pelos sérvios, gregos e romenos, e a Turquia retomou Adrianópolis. Ao começar a primeira guerra mundial, a Turquia aliou-se à Áustria e à Alemanha. Embora os militares turcos tenham demonstrado seu preparo na vitoriosa defesa dos Dardanelos, o país perdeu suas províncias árabes e parte da Anatólia.

O sultão Mehmet V morreu em julho de 1918. Seu irmão Mehmet VI ascendeu ao poder em pleno colapso das potências centrais européias. A Turquia pediu o armistício, firmado em 30 de outubro do mesmo ano. O Tratado de Sèvres (10 de agosto de 1920) desmembrou o império e impôs uma ocupação temporária da Anatólia pelos aliados. Apenas Istambul e uma área do nordeste do país ficaram sob a administração do sultão. Enquanto isso, declarava-se a república independente da Armênia, impunha-se uma autonomia para o país curdo e a Grécia tomava a Esmirna e a Trácia.


Apogeu do Império – O apogeu do Império se dá no reinado de Solimão I, o Magnífico. Ele sobe ao poder em 1520 e leva o domínio turco às portas de Viena, na Áustria, depois de chegar aos Bálcãs, alcançar a região da Criméia, o mar Negro, algumas ilhas gregas e o Oriente Médio. No fim do século XVII, tem início a decadência. No decorrer do século XIX, o Império começa a se desintegrar. A repressão a reivindicações autonomistas – como o genocídio de 600 mil a 1,5 milhão de armênios em 1915 – não evita seu progressivo desmembramento. A derrota na I Guerra Mundial leva à perda das possessões no Oriente Médio e na África.

Ocidentalização – Após o armistício, cresce o movimento nacionalista liderado por Mustafa Kemal, militar reformista que adota o codinome Atatürk (pai dos turcos). Em 1920, ele derrota os gregos que haviam invadido o país e modifica o Tratado de Sèvres, que impõe restrições à soberania turca. Em outubro de 1922, o sultanato é abolido, e, no ano seguinte, a República é proclamada. Atatürk elege-se presidente e governa ditatorialmente até a morte, em 1938. Suas medidas favorecem a modernização e a ocidentalização do país: abolição da poligamia, substituição do direito islâmico por legislação de feitio ocidental, imposição do casamento civil, adoção do alfabeto romano e anulação, em 1928, do artigo constitucional que declarava ser o islamismo a religião do Estado. Ismet Inönü, colaborador de Atatürk, sucede-o na Presidência até 1950. Nesse ano, a primeira eleição livre realizada no país é vencida pela oposição.

Golpes militares – Em 1974, um golpe liderado por oficiais gregos na ilha de Chipre leva a Turquia a intervir no país sob o pretexto de proteger os interesses da população de origem turca. Chipre ainda está dividido em duas zonas: greco-cipriota e turco-cipriota. Nos anos 1970 e 1980, o processo democrático na Turquia é interrompido por golpes militares. Realizam-se eleições em 1983, mas prosseguem as violações à democracia.

Islamismo e democracia – Em 1996, o Partido do Bem-Estar (RP) – fundamentalista islâmico – é o mais votado nas eleições parlamentares e forma um governo liderado por Necmettin Erbakan. Pressionado pelos militares, que fazem campanha contra a interferência da religião nos assuntos de Estado, em 1997, Erbakan renuncia. No mesmo ano, a Turquia tem seu pedido de entrada na União Européia (UE) recusado por desrespeito aos direitos humanos e à democracia. Em fevereiro de 1998, o Tribunal Constitucional torna ilegal o RP e suspende os direitos políticos de Erbakan por cinco anos, sob a acusação de romper a laicidade do Estado.

Reformas econômicas – Eleições parlamentares em abril de 1999 dão a vitória ao Partido da Esquerda Democrática, de Bulent Ecevit, que governa com o apoio dos conservadores. Ecevit prossegue com as reformas econômicas para capacitar o país a ingressar na UE. Os planos do governo são abalados por um terremoto, em agosto, com epicentro em Izmit (nordeste), que mata cerca de 14 mil pessoas. Em 2000, o Parlamento elege o novo presidente, Ahmet Necdet Sezer, independente e defensor do Estado laico.

Uma investigação do governo sobre fraude em dez bancos expõe a vulnerabilidade do setor financeiro turco e é o ponto de partida para uma crise financeira internacional em 2001. A lira turca perde valor, os preços sobem e investidores retiram capital do país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) lança um pacote de ajuda de 10 bilhões de dólares.

União Européia – Ainda em 2001, o Parlamento aprova 34 mudanças na Constituição, entre as quais a abolição da pena de morte e a flexibilização em relação ao uso do idioma curdo, para aumentar a chance de a Turquia tornar-se membro da UE. O Código Civil é alterado, para que os direitos das mulheres sejam equiparados aos dos homens. A UE não inclui, no entanto, a Turquia na lista dos países que integram o bloco em 2004, por não cumprir todos os requisitos.

Vitória islâmica – Numa ofensiva contra os fundamentalistas, a Corte Constitucional bane, em 2001, o Partido da Virtude, acusado de minar o Estado não-religioso. Parte de seus 102 deputados, a maior bancada da oposição na Grande Assembléia Nacional Turca, funda o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK). Em 2002, oito ministros renunciam para forçar o primeiro-ministro, Ecevit, a convocar eleições antecipadas. Nas eleições, o AK obtém 363 das 550 cadeiras do Parlamento, embora seu líder, Recep Tayyip Erdogan, tivesse sido proibido de exercer cargos públicos, acusado de ameaçar o secularismo. Erdogan afirma que, apesar da orientação islâmica de seu partido, não haverá mudança de rumo nas reformas pró-ocidentais e pró-mercado. Ele indica o vice-presidente do AK, Abdullah Gul, como primeiro-ministro. Um mês depois, o Parlamento devolve a Erdogan plenos direitos políticos. No início de 2003, uma eleição local para substituição de um deputado conduz Erdogan de volta ao Parlamento. Dois dias depois, Gul renuncia ao cargo de primeiro-ministro para que Erdogan possa assumi-lo.

Guerra e terrorismo – No início do governo de Erdogan, o Parlamento se recusa a permitir que os Estados Unidos (EUA) instalem no país 62 mil soldados como parte dos preparativos para a invasão do Iraque. O primeiro-ministro apóia a vinda das tropas, mas seu pedido é rejeitado pelos deputados. Como represália, os EUA cancelam um pacote de ajuda de 30 bilhões de dólares. O Parlamento então acaba permitindo a passagem de aviões militares norte-americanos pelo país. Os EUA elogiam a medida e liberam um pacote de 9,4 bilhões de dólares. Em novembro de 2003, o país é vítima do terrorismo islâmico. No dia 15, 25 pessoas morrem em ataques suicidas, reivindicados pela rede terrorista Al Qaeda, contra duas sinagogas em Istambul. Cinco dias depois, dois veículos-bomba são lançados contra alvos britânicos na cidade. As explosões matam o cônsul britânico e mais 27 pessoas. O governo turco, aliado dos EUA e de Israel, diz que seguirá combatendo o terrorismo.

Terremoto – em outubro de 2011 (23) um forte terremoto de 7,2 na escala Richter atingiu o leste da Turquia, deixando centenas de vítimas fatais. As cidades mais atingidas foram Van e Erse.

Aproximação com a UE – Em 2004, os atentados não cessam totalmente, mas a Turquia avança em sua aproximação com a União Européia. Em janeiro, o país assina protocolo rejeitando a pena de morte em qualquer circunstância. Reforma também sua moeda, implantando a nova lira, ao cortar seis zeros da lira turca. A economia apresenta bom desempenho. O espaço para os direitos dos curdos se amplia em junho, quando a TV estatal faz as primeiras transmissões na língua curda e quatro ativistas curdos são soltos. Em setembro, um novo código penal é aprovado, permitindo um combate mais efetivo à violência contra as mulheres e a tortura, queixa sistemática da UE. Em outubro de 2004, a Comissão Européia aprova o início das conversações com a Turquia para sua entrada na comunidade, decisão que ainda teria de ser submetida à cúpula da UE.

Turquia faz concessões aos curdos
Maior etnia sem Estado do mundo, com 26 milhões de pessoas, os curdos habitam uma vasta região, que extrapola as fronteiras da Turquia, denominada por eles de Curdistão, abrangendo também áreas no Iraque, Síria, Irã, Armênia e Azerbaidjão. São majoritariamente muçulmanos sunitas, organizam-se em clãs e, em algumas regiões, falam o idioma curdo. A partir de meados do século XX ocorrem rebeliões na Turquia e no Iraque e surge o projeto de um Estado curdo na região. O governo dos dois países reprime com violência os separatistas.

Curdistão turco – O principal grupo separatista, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), dá início, em 1984, à luta armada contra o governo turco — que não reconhece a existência da etnia curda e proíbe o uso de seu idioma. O líder máximo do PKK, Abdullah Öcalan, é preso por forças especiais da Turquia em 1999 e condenado à morte. Mas a decisão gera protestos em vários países. O governo turco, pressionado pela União Européia, atende a uma reivindicação histórica dos curdos ao liberar parcialmente o ensino da língua curda, em 2001. Em 2002, em conseqüência da abolição da pena de morte na Turquia, a pena de Öcalan muda para prisão perpétua. O ataque militar dos EUA ao Iraque, em 2003, reacende o temor da Turquia de que os curdos iraquianos criem um Estado independente após o fim do regime de Saddam Hussein. Tropas turcas são deslocadas para a região. Mas o comando norte-americano, cumprindo promessa feita ao governo turco, impede que as milícias curdas do Iraque assumam o controle político da região.

República. Um general de prestígio, Mustafá Kemal, mais tarde chamado Atatürk (pai dos turcos), liderou um movimento de resistência nacionalista, que se negava a aceitar as condições impostas ao governo do sultão. Em abril de 1920, os nacionalistas turcos conseguiram reunir em Ankara uma Assembléia Nacional. O interior da Anatólia foi logo tomado por eles, e, em 1921, um tratado com a União Soviética fixou as fronteiras no Cáucaso. Depois disso, a população armênia foi sistematicamente exterminada.

Atatürk soube reorganizar as forças nacionalistas, de tal maneira que os habitantes gregos, derrotados em batalhas sucessivas, tiveram que abandonar a Turquia europeia e a região de Esmirna. Em novembro de 1922, o sultanato foi abolido. No ano seguinte, a Paz de Lausanne, aceita por todas as partes, consagrou as fronteiras turcas e a definitiva retirada das tropas de ocupação. Cerca de 1,3 milhão de gregos tiveram que abandonar o país, enquanto 400.000 turcos retornaram.

A nova república turca estabeleceu sua capital em Ankara. Atatürk empreendeu drásticas reformas que deram origem a um estado autoritário, centralizado e laico. Suprimiu-se o direito tradicional, de origem islâmica, e declarou-se obrigatória a grafia do idioma turco em caracteres latinos e não árabes, como era antes. A economia, prejudicada pelos anos de guerra internacional e civil e carente de mão-de-obra devido à fuga em massa de gregos e armênios, mostrou-se frágil, e o estado interveio para fomentá-la. O estado autoritário de Atatürk, dirigido pelas classes cultas urbanas, transformou rapidamente muitos aspectos externos da sociedade e se preocupou com detalhes superficiais, como a proibição do uso do fez, gorro tradicional. A modernização profunda dos costumes, porém, tardaria décadas.

Após a morte de Atatürk, em 1938, Ismet Inönü, um de seus colaboradores mais próximos, elegeu-se presidente. O novo estado turco adotou uma política externa de neutralidade, mantida durante a maior parte da segunda guerra mundial, mas, por pressão dos aliados, declarou guerra aos alemães e japoneses em 1945. Ao terminar o conflito, a Turquia estava imersa numa profunda crise econômica, em virtude das dificuldades de abastecimento e dos gastos militares.

A pressão soviética nas fronteiras orientais obrigou o país a se aliar às potências capitalistas. O sistema político se tornou menos rígido, e os sindicatos e partidos políticos puderam exercer atividade limitada. Em 1952, a Turquia ingressou na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e começou a receber ajuda econômica e militar dos Estados Unidos. Mais tarde, ingressou em organismos como a Organização para a Cooperação Econômica Européia (OCEE) e o Conselho da Europa. Em 1963, tornou-se membro associado da Comunidade Econômica Europeia.

Adnan Menderes, primeiro-ministro desde 1950, foi derrubado por um golpe militar em 1960. No ano seguinte, promulgou-se uma nova constituição e, após as eleições, formou-se um governo civil, encabeçado por Inönü, chefe do Partido Popular Republicano. O Partido da Justiça, de Suleiman Demirel, de tendência social-democrata, alternou-se com o Republicano no poder até 1980, quando, diante da instável situação política, os militares tomaram o poder, sob a liderança do general Kenan Evren. Impôs-se a lei marcial, os jornais foram fechados e toda atividade política proibida. Dois anos depois, aprovou-se uma nova constituição e teve início o processo de restituição do poder aos civis.

As eleições de novembro de 1983 deram a maioria parlamentar ao Partido da Pátria, e seu líder, Turgut Özal, tornou-se primeiro-ministro, embora a chefia de estado continuasse nas mãos do general Evren. Em 1987, a Turquia pediu sua admissão como estado-membro da Comunidade Europeia, mas teve o pedido rejeitado, dois anos depois, por, entre outros fatores, infringir os direitos humanos e apresentar altas taxas de inflação.

Em 1989, Özal elegeu-se presidente. Dois anos depois, o governo adotou uma política de liberalização, que tirou da ilegalidade os marxistas e políticos de orientação religiosa e promoveu ampla anistia. No mesmo ano, Demirel tornou-se primeiro-ministro. Com a morte de Özal em 1993, Demirel assumiu a presidência e foi substituído, como primeiro-ministro, pela economista Tansu Çiller, a primeira mulher a chefiar o governo turco. Çiller iniciou um amplo programa de reformas econômicas destinado a permitir o ingresso do país na União Europeia, mas uma crise política levou-a a renunciar em setembro de 1995.

Governo Turco – República parlamentarista. Div. administrativa: 81 províncias. Partidos: da Justiça e Desenvolvimento (AK), Republicano do Povo (CHP), da Ação Nacionalista (MHP), Caminho Verdadeiro (DYP). Legislativo: unicameral – Grande Assembléia Nacional Turca, com 550 membros. Constituição: 1982.


Instituições políticas da Turquia

A Turquia é uma república multipartidária. A constituição de 1982 estabelece um sistema parlamentar de governo, com uma Assembleia Nacional unicameral, eleita por sufrágio universal para um mandato de cinco anos. A Assembleia elege o presidente da república para um mandato não-renovável de sete anos. O presidente indica o primeiro-ministro e o gabinete, que controlam os assuntos do governo.

Os principais partidos políticos da Turquia são o Partido da Pátria, de centro-direita, o Partido da Justa Via, também de centro-direita, e o Partido Populista Social Democrático, de centro-esquerda.


Sociedade

Quando a república turca foi instituída, em 1923, estimava-se que apenas dez por cento da população eram alfabetizados. O programa de governo de Atatürk enfatizou o ensino, e, no final do século XX, a taxa de alfabetização já tinha alcançado 76%. O sistema público de ensino oferece educação primária gratuita e obrigatória por cinco anos. A educação secundária se estende por seis anos. A educação religiosa, proibida nos primeiros anos da república, foi mais tarde permitida em escolas primárias e de formação de religiosos. O país tem cerca de vinte instituições universitárias.

O Ministério da Saúde e Bem-Estar Social mantém muitos hospitais e centros assistenciais, que proporcionam atendimento médico gratuito à população pobre. O Ministério do Trabalho e diversas organizações privadas mantêm centros sanitários. Os principais problemas de saúde são a mortalidade infantil e a causada por doenças infecciosas.

O baixo nível de renda, o acentuado aumento demográfico e o intenso êxodo rural contribuem para a manutenção de um elevado déficit de moradias. As principais cidades, embora possuam bairros de classe média em contínua expansão, estão cercadas por grandes cinturões de pobreza, carentes de serviços essenciais, como água e esgotos. 


Cultura da Turquia

As civilizações árabe e persa se uniram à bizantina para delinear os principais traços culturais do império otomano. A partir do século XIX, a influência cultural do Ocidente se tornou cada vez maior e impregnou as minorias cultas, que criaram o novo estado turco depois da primeira guerra mundial. Desde então, a cultura turca assumiu um forte traço nacionalista, voltada principalmente contra a influência árabe. Kemal Atatürk impôs o emprego do alfabeto latino e fez adotar o calendário gregoriano. Artistas e escritores defenderam claramente o nacionalismo e o ocidentalismo cultural, em detrimento da tradição islâmica.

As instituições oficiais estimulam as manifestações culturais tradicionais turcas. Na Ópera de Ankara, fundada em 1940, e na Ópera de Istambul, de 1950, são encenadas obras clássicas do Ocidente. Várias instituições promovem as artes e as ciências, entre elas três conservatórios de música em Ankara, Istambul e Esmirna; a Academia de Belas-Artes, em Istambul; e o Instituto Nacional de Folclore, em Ankara.

Milênios de civilização fizeram da Turquia um país rico em sítios arqueológicos e importantes obras arquitetônicas, entre as quais a principal é a grandiosa basílica de Santa Sofia, em Istambul, edificada no século VI e transformada, mais tarde, em mesquita e museu. Há museus arqueológicos em Ankara, Istambul e Esmirna.

 Istambul
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