Geografia dos Andes na América do Sul

Geografia dos Andes na América do Sul

Geografia dos Andes na América do Sul

Andes
Um dos mais altos e vastos maciços do planeta, só inferior em altitude ao Himalaia, nele se acham os pontos culminantes das Américas, e em suas encostas desenvolveram-se diversas culturas e civilizações.

Os incas conheciam pelo nome de Anta, que em quíchua significa "cobre", a cordilheira situada ao sul do Peru, onde havia abundância desse metal. A denominação, que no século XVI aparece como Antas e Antis, passou depois a designar toda a cadeia.

Situação e relevo dos Andes
Às vezes chamados tão-somente de Cordilheira, os Andes situam-se a oeste da América do Sul, do noroeste da Venezuela até a Terra do Fogo, alcançando 8.900km de extensão. De largura variável, atingem o máximo em território boliviano e estreitam-se gradualmente em direção ao sul, quando se apresentam como uma cadeia simples e de grandes altitudes na parte setentrional. Acham-se aí algumas de suas mais altas elevações, como o pico Mercedario (6.770m), o Tupungato (6.650m) e sobretudo o Aconcágua (6.959m), ponto culminante das Américas.

Do rio Copiapó para o norte, até a região do Vilcanota, os Andes subdividem-se em duas cadeias, a Ocidental e a Oriental, levantando-se entre estas um grande planalto (o altiplano boliviano), com altitude média superior a quatro mil metros e com alguns lagos, entre os quais, na fronteira Peru-Bolívia, o Titicaca. A cadeia Ocidental, nada mais do que a continuação para o norte da cordilheira andina do extremo sul, apresenta nesse trecho outros picos muito altos, como o vulcão Llullaillaco (6.723m). A cordilheira Oriental, de vulcanismo mais intenso, mostra-se menos coberta de neve.

Nas imediações do Vilcanota as duas cadeias unem-se, e mais adiante voltam a se dividir em duas, entre as quais se acham as nascentes do rio Ucayali, início do Amazonas. Na colina de Pasco unem-se de novo, desdobrando-se depois em três cadeias (Oriental, Central e Ocidental), ainda no Peru. Na verdade, a própria cadeia Ocidental é dupla nesse segmento, formando a cadeia Branca e a Negra. Corre entre as duas o alto Marañón. Nessa faixa peruana, os cumes, acima de cinco mil metros, são permanentemente cobertos pela neve.

No Equador, os Andes voltam a separar-se apenas em duas cadeias, Ocidental e Oriental. Estão aí vários vulcões ativos, como o Chimborazo (6.267m), o Cotopaxi (5.897m) e outros. Os Andes colombianos têm picos relativamente modestos, mas cobertos de neves eternas. Há manifestações vulcânicas ativas, como o Tolima e o Puracê, e o pico Cristóbal Colón (5.775m) é o mais alto da região. A cadeia Ocidental perde altitude para o norte e desaparece em território venezuelano, enquanto a Oriental inflete para leste e forma o sistema de Mérida, que guarnece o golfo de Maracaibo.

Geologia dos Andes
Um corte ideal dos Andes, de leste para oeste, mostra uma sucessão de rochas dobradas e falhadas, entremeadas aqui e ali de rochas magmáticas. A formação dessa cordilheira, como a de muitas outras cadeias de montanhas, é ainda matéria de controvérsia sob diversos aspectos. Os Andes constituem a estrutura geológica mais importante da América do Sul, quer pelas dimensões gigantescas, quer pela influência que exerceram em fenômenos geológicos ocorridos em outras regiões sul-americanas. Embora sua fisionomia atual se deva a eventos geológicos mais ou menos modernos, a história da região andina aprofunda-se até o início do paleolítico, e é muito complexa.

Tanto os Andes como as montanhas Rochosas, os Alpes ou o Himalaia formaram-se pelo dobramento e elevação de espessas seqüências de rochas acumuladas em antigas depressões marinhas a que os geólogos dão o nome de geossinclinal. Esses dobramentos foram acompanhados por fenômenos vulcânicos muito intensos, cujas manifestações residuais ainda se observam em nossos dias. Os dobramentos e falhamentos que conduziram à formação dessas cordilheiras de estrutura tão complexa não se manifestaram de uma vez, mas reincidiram em épocas distintas, da era proterozóica à pleistocena. Uma das fases mais decisivas foi a do período cretáceo, em que a presença do mar, embora persistente, teve domínio oscilante: resultou daí a alternância de depósitos marinhos com depósitos continentais em diversos pontos.

Economia dos Andes
Os recursos naturais dos Andes e a variação das características de seu solo são determinantes para a orientação dos sistemas econômicos dos diferentes países atravessados por esse vasto sistema montanhoso. Nas cadeias andinas da Venezuela, a atividade predominante é a agricultura de exportação de produtos tropicais, sobretudo café e cacau, nas menores altitudes.

Na Colômbia, as culturas predominantes já dependem da altitude: nas terras mais baixas, encontram-se a cana, o cacau, o algodão, a banana; as altitudes médias são o domínio do café, de que o país é o segundo produtor mundial; nas terras mais frias, plantam-se cereais. Embora secundária, a mineração de carvão, ouro e esmeraldas soma-se a jazidas de petróleo, que vêm sendo exploradas. Na região equatoriana, as principais atividades econômicas são o cultivo de cereais e batatas e a criação de ovinos e de lhamas.

Nos Andes peruanos também se criam lhamas, alpacas e ovelhas. A oeste, e no planalto, as terras são mais áridas, e a leste fica a floresta equatorial. A agricultura é apenas complementar, mas a extração mineral compreende ferro, cobre, prata, zinco, carvão e petróleo. Na Bolívia, a economia distingue-se igualmente pelo predomínio da mineração, sobretudo de estanho, zinco, chumbo e tungstênio.

No Chile e na Argentina os Andes alcançam suas maiores altitudes, a temperatura desce em direção ao sul -- baixando os limites das neves eternas --, e a umidade aumenta com os ventos marinhos. Há minas de cobre, ferro, nitrato e metais preciosos e, nos vales da parte central do Chile, excelentes culturas de tipo mediterrâneo, como a da videira, de que provêm os melhores vinhos de todo o continente.

Geografia Humana dos AndesGeografia Humana dos Andes
Nos Andes e em suas proximidades floresceram extraordinárias civilizações pré-colombianas, particularmente a do império inca (que ia do Equador até a metade do Chile) e a dos chibchas, que habitavam planaltos da Colômbia a mais de 2.500m de altura. Poucos testemunhos restaram dos conhecimentos e das artes desses povos, aniquilados pela ocupação espanhola.

As populações dos países que se criaram na cordilheira e em suas cercanias parecem ter mantido, ao longo do tempo, sua preferência pelas alturas, pois muitas das capitais aí se situaram, como é o caso de Caracas (920m), Bogotá (2.611m), Quito (2.850m), La Paz (3.636m). Esta última, em alguns pontos, fica acima de quatro mil metros, classificando-se como a capital mais alta do mundo. Mais ao sul, no entanto, as condições climáticas e os recortes cada vez mais agudos da cordilheira impedem essa concentração demográfica nas montanhas.

Na verdade, em termos de distribuição, os altos picos, as áreas frias chilenas de 42 graus de latitude sul para baixo e as semi-áridas ou desérticas do Peru e do Chile meridional são fracamente povoadas. Em contrapartida, os planaltos andinos da Venezuela, a região de Bogotá, de Lima, e as vertentes ocidentais do Chile, de clima ameno, registram as maiores densidades das regiões andinas.

Embora os territórios nacionais por onde passam os Andes já abrigassem em meados da década de 1990 cerca de 150 milhões de habitantes (compreendendo a Argentina, Colômbia, Chile, Peru, Venezuela, Equador e Bolívia), as regiões propriamente andinas reúnem um terço desse total. Expressivos contingentes de população indígena subsistem no Equador, Peru e Bolívia (quíchuas), assim como no Chile (araucanos), enquanto na Colômbia os negros, mulatos e mestiços em geral compõem a maior parte dos habitantes. Na Argentina, quase toda a população é de origem européia, tendo restado muito poucos representantes dos vários povos indígenas.

Nos países em que os ameríndios e mestiços predominam, observa-se um fato curioso: a proporção dos habitantes que se apresentam como católicos é muito maior que a dos usuários da língua espanhola.

São difíceis, nos Andes, os transportes e as comunicações, enquanto as redes rodoviária e ferroviária já construídas são insuficientes. Há exceções portentosas, como a rodovia Pan-Americana e estradas de ferro como a que sobe a Cuzco, no Peru, ou a que vai de Buenos Aires a Valparaíso, unindo os oceanos Atlântico e Pacífico. Há esforço crescente no sentido de ampliar e integrar os corredores existentes, embora em muitas regiões o melhor meio de transporte ainda continue a ser o lombo das mulas e das lhamas.

Exploração dos Andes
As expedições científicas aos Andes tiveram início no século XVIII, mas só no final do século XIX se organizaram empreendimentos sistemáticos. Essa exploração começou pelos importantes vulcões nas proximidades da costa do Pacífico e penetrou aos poucos no interior, até alcançar, especialmente no Peru, algumas das cadeias de difícil acesso, que, em certos casos, só mesmo no século XX vieram a ser conhecidas. Os alpinistas pioneiros eram ingleses, alemães e italianos, seguidos mais tarde por americanos, franceses, holandeses, belgas e japoneses.

Na parte equatoriana da cordilheira Ocidental localizam-se mais de trinta vulcões significativos, salientando-se o Chimborazo e o Cotopaxi, os mais altos da Terra. A região foi estudada de 1736 a 1744 pelos franceses Pierre Bouguer e C.M. de la Condamine e pelos espanhóis Antonio de Ulloa e Jorge Juan. Seguiu-se a estes, entre outros, o cientista alemão Alexander von Humboldt, que em 1802 chegou a mais de 5.800m do Chimborazo. O cume só foi atingido em 1880 pelo inglês Edward Whymper, que fez a escalada completa de várias outras montanhas.

Voltando-se para o sul dos Andes, os montanhistas viram no Aconcágua sua meta mais ambiciosa. O pico, na província argentina de Mendoza, foi atingido por Stuart Vines e Matthias Zurbriggen, da expedição inglesa de Edward A. Fitzgerald, em 1897. Entre os maiores desafios estava a região andina do Peru e da Bolívia. Os picos do Huascarán foram pela primeira vez vencidos pela americana Annie S. Peck (1908), e uma expedição da Universidade de Harvard em 1950 alcançou o terrível Yerupajá, dito El Carnicero, com mais de 6.600m. De altitude ainda maior (mais de 6.860m), o segundo dos picos do Illimani, perto de La Paz, também só foi atingido em 1950: o pioneiro Sir Martin Conway alcançara o primeiro em 1898. Proeza à parte, e de grande fama, foi a descoberta da cidade esquecida de Machu Picchu (1911), no Peru, por Hiram Bingham.

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