Socialismo e Guerra Fria
No pós-2ª Guerra Mundial ocorre a expansão do socialismo soviético, impulsionado pelo desenvolvimento da Guerra Fria, já que a então URSS saiu fortalecida do conflito mundial, ampliando seu território (incorporou Letônia, Lituânia e Estônia e porções da Polônia). Além disso, em países do leste europeu que o exército vermelho tomou bases militares nazi-facistas, passou a influenciar a instalação de regimes comunistas pró-soviéticos. Notadamente a antiga Alemanha Oriental, Polônia, ex-Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária e Romênia. Albânia e ex-Iugoslávia tinham autonomia diante do centralismo de Moscou, já que a implantação de seus regimes socialistas foi um processo interno a esses países. Inclusive estes Estados dos Bálcãs foram neutros na Guerra Fria, não fazendo parte da organização militar socialista, o Pacto de Varsóvia (1955 - 1992).
O Socialismo cresce ainda mais como alternativa ao sistema capitalista com a Revolução Chinesa (1949), o surgimento da Coreia do Norte (1954), Revolução Cubana (1959) e a adesão ao regime comunista por países asiáticos (Vietnã, Laos, Camboja, Coréia do Norte) e africanos (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau) nas décadas de 60 e 70. Além dessa expansão comunista pós-2ª Guerra mundial, a Mongólia já adotava (e adota) o regime socialista desde a década de vinte e outros tantos Estados com cúpulas dirigentes alinhadas à URSS. Destacam-se ainda movimentos guerrilheiros comunistas na América Latina como os extintos “Sendero Luminoso” e “Tupac Amaru” (Peru), os “Tupamaros” (Uruguai) e os que atuam até hoje na Colômbia – o Exército de Libertação Nacional (ELN) e a Forças Armadas Revolucionária da Colômbia (dominam cerca de 40% do território do país andino) – e na região central da Índia com os maoístas Naxalitas, entre outros.
O Socialismo Soviético
O Socialismo real, em boa medida, desvirtuou-se dos princípios do socialismo científico teorizado a partir de meados do século XIX e tendo como expoentes Karl Marx e Friedrich Engels, sendo marcado por uma extrema centralização política, além da não-coletivização da propriedade, mas a sua estatização, com as terras e fábricas sendo controladas pelo corpo burocrático do Estado, e não pelas comunas populares. Também não houve a extinção das diferenças de sociais e até criou-se com privilégios de classes à cúpula dos governos socialistas: dirigentes dos Partidos Comunistas, militares e burocratas, além de ditaduras apoiadas pelo Estado soviético.
A economia planificada marcou o socialismo soviético, com o Estado direcionando a produção agrícola, industrial e distribuição comercial com ênfase à indústria de base nos países onde ocorreu industrialização (ex-URSS e o Leste Europeu). Os bens de produção como siderurgia, naval, metalurgia, transporte pesado, entre outros, tem como uma de suas justificativas um suporte ideológico em que, em tese, o direcionamento fabril à industria de base seria uma oposição ao consumismo capitalista por direcionar a produção para atender todas suas populações com bens de consumo essenciais. Cabe salientar o enorme direcionamento de investimentos para o setor militar (aeroespacial, atômico...), num contexto de bipolaridade política da ordem da Guerra Fria.
As críticas ao Socialismo real estendem-se ao plano político, já que não havia eleições livres e outros direitos civis eram reprimidos, como greves ou manifestações contrárias ao regime socialista soviético. As tentativas de reformulação política no regime foram duramente reprimidas, como as que ocorreram na Hungria, em 1956, e a "Primavera de Praga", em 1968, na então Tchecoslováquia: não interessava à ex-URSS um 'socialismo diferente', independente do soviético. O monopartidarismo representava um atentado à democracia, possibilitando a formação de uma elite política e econômica, quando não apenas disfarçava ditaduras pessoais, como as de Stálin (ex-URSS), Ceaucescu (Romênia), Pol Pot (Camboja), Kim Il Sung (Coréia do Norte). As artes também eram cerceadas pelo Estado, que censurava as manifestações críticas ou as consideradas "arte burguesa", definindo padrões estéticos no teatro, cinema, artes plásticas, música.
Reestruturação Soviética
A crise deste modelo socialista encontra-se exatamente em seus problemas econômicos e políticos, a partir da decadência da URSS, que sustentava o Socialismo mundial. Os gastos militares excessivos, aliados a uma do parque industrial obsolescência frente à Revolução Tecnocientífica e ainda a deficiente produção agrícola, passaram a exercer uma pressão sobre a população e o sistema no "socialismo central". Neste contexto de decadência, é eleito como Secretário Geral do Partido Comunista da URSS, em 1985, Mikhail Gorbatchov que, sensível aos problemas e à insatisfação popular e tentando uma 'humanização' do socialismo com vistas a mantê-lo hegemônico, inicia uma série de reformas graduais nos planos econômico (Perestroika) e político (Glasnost). A flexibilização econômica permitiu o retorno à propriedade privada, bem como uma maior participação soviética no mercado internacional (antes confinado ao COMECOM: o acordo de cooperação econômica entre os ex-socialistas); houve ainda o corte de gastos militares, além da permissão à instalação de transnacionais e reabertura de bolsas de valores. A transparência política permitiu o fim da censura, o pluripartidarismo e eleições diretas.
Guerra Fria
Trata-se do Conflito indireto bipolar entre super-potências (URSS x EUA) ocorrido entre 1947 e 1989/91 e baseado numa disputa ideológica (socialismo x capitalismo) e uma corrida armamentista (o “equilíbrio do terror” nuclear). Esta divisão planetária ampliou as esferas de influência político-econômicas e militares das superpotências pelo mundo.
A bipolaridade da Guerra Fria contribui até hoje na (re)configuração do espaço mundial em múltiplos aspectos das atuais tensões geopolíticas como a questão norte-coreana, a manutenção do embargo estadunidense a Cuba, a existência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou a atuação de guerrilhas e partidos comunistas e até eleição a presidência de antigos guerrilheiros na Nicarágua e Uruguai, por exemplo. A Guerra Fria deixa também heranças em questões econômico-comerciais: o vigoroso crescimento do “socialismo de mercado” chinês; abertura econômica controlada por Estados auto-proclamados socialistas: o Vietnã com a atração de capitais fabris estrangeiros a exemplo da China (assemelhado ao modelo de plataformas de exportação dos “Tigres Asiáticos”) e a necessidade de Cuba abrir-se, diante do embargo de meio século, ao turismo e permissão à atuação de serviços estrangeiros em alguns setores econômicos, como a telefonia.
“Nova Ordem Mundial” pós-Guerra Fria
O quadro de reformas na então URSS em fins dos anos 80, proporcionou várias mudanças internas àquele país como também no Socialismo mundial, orientando novas territorializações e políticas que, no início dos anos 90, convencionou-se chamar de nova (des)ordem mundial: A Perestroika/Glasnost soviética permitiu um afrouxamento do controle do socialismo no mundo, já que a URSS voltava-se aos próprios problemas; em especial na Europa do leste, quando seus regimes, a exemplo dos soviéticos e diante da pressão popular por democracia, também passaram a fazer reformas políticas e econômicas, culminando na queda do Muro de Berlim em 1989 e a 'unificação' alemã em 1990 como estopim das reformas no leste europeu e símbolo do fim da Guerra Fria.
Ex-União Soviética
As reformas na URSS aprofundavam os problemas econômicos e descontentavam tanto a população, que passava a um progressivo processo de empobrecimento, quanto o setor conservador do Partido Comunista, que perdia o poder. Em agosto de 1991 uma tentativa de golpe de Estado retira Gorbatchev do poder, no entanto a população, mobilizada, rejeita o autoritarismo do PCU fracassando o golpe.
Neste contexto emerge Bóris Yeltsin, então presidente da então república soviética Rússia, bradando contra o golpe e defendendo uma aceleração das reformas. O enfraquecimento do poder central soviético já vinha ocorrendo com as manifestações nacionalistas das ex-Repúblicas Soviéticas, que desejavam maior autonomia e, com a tentativa de golpe, culminou na desagregação da URSS em 15 países em dezembro de 1991; o que contribuiu mais ainda com a nova configuração política do mundo. Yeltsin ganha as eleições contra Gorbachev e torna-se o primeiro presidente da Federação Russa pós-URSS em 1992, radicalizando a abertura econômica e aprofundando a pobreza em seu país.
As outras ex-Repúblicas Soviéticas também ampliaram suas reformas, mas diferenciam-se mais ou menos quanto às diferenças étnicas: os eslavos cristãos ortodoxos ligados à Rússsia (Ucrânia e Belarus), os latinos cristãos ortodoxos da Moldávia, a Ásia central muçulmana (Casaquistão, Uzbequistão,Turcomenistão, Quirguistão, Tadjiquistão) e o Cáucaso (cristãos na Armênia e na Georgia e muçulmanos no Azerbaijão); estes ligados à Rússia compondo a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) - uma organização econômica que tenta ocultar um 'novo' domínio russo, mas que não seduziu as repúblicas bálticas (Letônia, Lituânia e Estônia): conquistadas à força no pós-2ª Guerra pelo "Império Vermelho" e mais ligadas à Europa ocidental, foram das primeiras a separarem-se da ex-URSS. Essas diferenças étnicas tem gerado também conflitos nacionalistas e separatistas entre as ex-Repúblicas, concentrados na região do Cáucaso: o caso da Armênia versus Azerbaijão em disputas territoriais; o separatismo de grupos étnico-religiosos na Geórgia e na Federação Russa (separatismo das Repúblicas da Chechênia e do Daguestão).
Leste Europeu
Na Europa oriental as mudanças procederam-se basicamente de duas formas: em alguns países de forma mais democrática, através de manifestações populares: a 'Queda do Muro de Berlim' nas Alemanhas, com posterior absorção da parte oriental (obsoleta, burocrática) pela porção ocidental em 1990; o acordo entre governo polonês e Sindicato Solidariedade para transição democrática; a "Revolução de Veludo" na antiga Tchecoslováquia, assim chamada pelo seu caráter pacífico e que redundou na divisão do país em República Tcheca e Eslováquia; também na Bulgária e Hungria se procedeu mais ou menos semelhante, ou seja, pressão da população e eleições, acelerando transição para a abertura de mercado. Em outros países a transição ocorreu de forma mais violenta, com revoltas e guerras: foi o caso da Romênia, onde o ditador Ceaucescu reprimia violentamente uma abertura no regime, culminando em seu fuzilamento em 1989; na Albânia a transição política e econômica dos anos 80 para os 90 ocorreu serena, mas em 1997 explodiu uma revolta em face de um esquema de poupança fraudulento que atingiu 25% da população; e o caso mais trágico que foi a fragmentação da ex-Iugoslávia, retalhada em comunidades étnico-religiosa-linguística resultando nas guerras da Bósnia (1992 - 1995) e em Kosovo (1999).
Na ex-URSS e antiga Europa do leste aprofundou-se o empobrecimento dos Estados e, principalmemte, da população, com a adoção do regime capitalista, ocorrendo a queda no poder de compra, diminuição no consumo de proteínas, desestruturação do parque industrial, aumento do desemprego e subemprego, bem como da dívida externa dos países. A atual Federação Russa, após uma década de Yeltsin (dois mandatos) e de abertura econômica, esse país sofreu uma "de-modernização", reduzindo o PIB em 50% em relação ao final dos anos 80, a pobreza atingindo 75% da população e pelo menos 15 milhões passando fome, expectativa de vida caindo para 57 anos e ainda a disseminação das máfias, controlando o submundo e mesmo as instituições políticas e econômicas legais. Esta transição revelou também o colapso ambiental representado pelo acidente radiativo de Tchernobyl (Ucrânia) em 1986, a desertificação na região do Mar de Aral ou ainda a destruição das florestas temperadas por chuva ácida no leste europeu e o arsenal atômico e obsoleto da ex-URSS. No século XXI a Rússia volta a crescer economicamente sob o nacionalismo de Putin e, atualmente sob o comando de Mevdev (vinculado ao anterior), apoiado nas exportações de petróleo que obtiveram em 2007-2008 preços recordes do barril.
Outro drama desta transição é o crescimento dos extremismos nacionalistas, como o neo-nazismo alemão conquistando cadeiras em parlamentos e tendo como reduto a antiga parte oriental, mais empobrecida, ou o nacionalismo russo, com vertentes que desejam a reconstrução da "Grande Rússia" apoiados no poderio bélico. Estas crises evidenciam ainda o descontentamento popular nas urnas, com o crescimento de parlamentares de partidos comunistas eleitos nestes países.
Outros países socialistas
Nos "socialistas pobres", o impacto do fim do Socialismo soviético mundial também resultou novas relações no atual cenário global: países como o Laos, Camboja, Mongólia e os ex-socialistas africanos o comunismo encontra-se diluído ou híbrido à política de mercado. Vivenciam dramáticos problemas econômicos, pois nunca se estruturaram durante o período socialista, repleto de guerras e revoltas internas, inserindo-se como fornecedores primários no cenário comercial internacional e um deplorável quadro sócio-econômico.
Cuba, Vietnã, Coréia do Norte e China mantém seus governos centralizadores socialistas, mas diferenciam-se: a China promove uma abertura econômica desde o final dos anos 70 - um 'capitalismo vermelho' - tornando-se o país que mais cresce economicamente neste início de século com uma estratégia de atração de transnacionais oferecendo incentivos e mão-de-obra barata para produção industrial voltada à exportação (além da perspectiva do próprio mercado chinês, o maior do mundo); o Vietnã segue uma linha de abertura econômica semelhante a da China, mas bem mais recente e tímida; a Coréia do Norte é um país que sofre isolamento político e econômico tanto dos ex-socialistas como dos capitalistas, flutuando conforme as instabilidades conjunturais: ora aproximando-se da Coreia do Sul em perspectivas de reunificação, ora impondo-se no cenário geopolítico internacional por meio de programas nucleares e, enquanto isso, agrava-se a situação de insegurança alimentar com ocorrência de crises de fome. Cuba atravessa dramática situação de isolamento, com embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde os anos 60 e que se tornou mais grave com a desintegração da URSS, que a apoiava estrategicamente e força a ilha socialista a flexibilizar a economia, permitindo a circulação de dólar e abrindo o país a investimentos estrangeiros, essencialmente no turismo.
A experiência do Socialismo real, apesar das críticas ao modelo burocratizado e autoritário, significou uma tentativa de ruptura ao Capitalismo, pelo menos em alguns países; e demonstrou, como nos sucessos sócio-econômicos conquistados por países empobrecidos, com Cuba e China, as possibilidades de alternativas à expansão capitalista, que aprofunda a concentração de renda mundial. Daí o esforço hercúlio dos EUA em desestabilizar o regime Cubano, pelo seu “mau exemplo” para os outros países pobres do mundo.
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