Geografia e História de Angola

Geografia e História de Angola

Geografia e História de Angola

Angola é uma antiga colônia portuguesa e uma das regiões africanas mais agredidas pelos traficantes de escravos durante os séculos XVII, XVIII e começos do XIX, é um país rico em recursos naturais, mas seu desenvolvimento tem sido obstado pelas contínuas guerras civis ocorridas desde a independência, em 1975.

A República de Angola situa-se no sudoeste do continente africano e se limita ao norte e a leste com o Zaire, a sudeste com Zâmbia, ao sul com a Namíbia e a oeste com o oceano Atlântico. O encrave litorâneo de Cabinda, entre o Zaire e o Congo, também faz parte do território angolano, cuja superfície total é de 1.246.700km2, dividida em 18 províncias.


Geografia física
O relevo angolano apresenta duas unidades geomorfológicas, a planície litorânea e o planalto. A primeira dessas regiões constitui uma faixa litorânea fresca, seca e pantanosa, que se estreita no setor meridional e ganha, aos poucos, aridez nas proximidades da Namíbia (deserto de Moçâmedes). A costa é retilínea e escarpada ao norte de Luanda, mas ao sul é recortada por diversas baías. O planalto ocupa a maior parte do território e pertence, do ponto de vista geológico, ao antigo escudo africano. Em sua parte ocidental, erguem-se as serras de Bié e Huila, com altitudes superiores a dois mil metros (o ponto culminante é o monte Moco, com  2.620m).

O planalto de Angola constitui um importante divisor de águas. Para norte correm os rios Cuango, Cuilo, Cuangue, Cassai e outros afluentes do Zambeze, que corta o extremo leste do país. Os rios que tomam a direção sul, como o Cubango e o Cuito, desembocam na depressão de Ngami ou do Okavango, ao norte de Botswana. Por fim, os principais rios da vertente atlântica são o Cunene, cujo trecho final serve de fronteira com a Namíbia, e o Cuanza, que desemboca ao sul de Luanda e oferece excelentes possibilidades como fonte de energia elétrica e via de navegação. É o maior do país, com cerca de mil quilômetros de extensão.

Clima
Quatro tipos climáticos bem diferenciados são encontrados em Angola: o tropical, o subtropical, o árido e o semi-árido. O primeiro ocorre no norte e nordeste do planalto, com chuvas de 1.299mm anuais e temperatura média de 23,2o C, sendo a fase mais seca de junho a setembro; o segundo abrange dois terços do planalto angolano, com um regime pluviométrico que atinge 1.479mm anuais e temperatura média de 19,1o C; o terceiro e o quarto caracterizam o litoral: em Luanda, por exemplo, há 362mm anuais de chuva e temperatura média de 24,4o C, e a estação seca, longa, ocorre de maio a fevereiro.

Fauna e flora
A fauna de Angola, como a de tantos outros países africanos, é de riqueza extraordinária, reunindo alguns dos mamíferos mais conhecidos no continente, como leões, leopardos, elefantes, girafas, hipopótamos, rinocerontes, zebras, búfalos e hienas, mas também animais menos generalizados na África, como o avestruz, o guepardo e diversos tipos de antílope, como o cudu e especialmente uma espécie rara, agora bem protegida, o egocero ou pala-pala, todo negro, com chifres de quase 1,60m recurvados para trás. Alguns desses animais encontram-se em grandes reservas naturais como a de Quinçama e a de Moçâmedes, com mais de 18.000km2.

No norte de Angola sobressaem as florestas densas, mas de folhas decíduas. Quase todo o planalto é tomado pela savana, entrecortada de matas-galerias, ao longo dos rios. São espécies de árvores bastante comuns no país a grande tacula (Pterocarpus tinctorius), a muzuemba (Albizzia coriaria) e um tipo de árvore-da-borracha, a Capordinus clylorrhiza. No sul predomina a vegetação arbustiva, e no litoral a dos manguezais e a das palmeiras oleaginosas (inclusive o dendê) dão a nota mais constante da paisagem.

População e condições sociais. Na maioria, os habitantes de Angola são negros (mais de noventa por cento). De origem banta, os grupos mais importantes são ovimbundos, quimbundos, bacongos e chocuelundos, mas ainda há, no sudoeste, hotentotes e bosquímanos. A população urbana, no final do século XX, não chegava a trinta por cento da total e, além de Luanda, a capital, as cidades mais representativas eram Huambo (antiga Nova Lisboa), Lobito, Benguela e Lubango. A população se concentra sobretudo no norte do país.

O português é o idioma oficial, mas a maior parte da população fala suas línguas nativas: dos idiomas bundos, só o ovimbundo conta com mais de dois milhões de usuários. As religiões tribais, animistas, congregam a maioria dos angolanos, embora haja missões católicas e protestantes. O animismo angolano, de tradições milenares, envolve cultos que, no Brasil, deram origem ao candomblé ou umbanda. Sua mitologia e seus ritos são de imensa riqueza humana e etnográfica. 

O país ainda padece de graves problemas sociais e sanitários, em grande parte provenientes, como em outros estados africanos, do atrito cultural entre a organização política nacional e as sociedades tribais. Também ali a população africana perdeu o melhor de suas condições originais, e ainda não teve como chegar às condições ditadas pelos padrões europeus. Em países como Angola, é difícil abordar o problema do analfabetismo, por exemplo, pois a grande maioria de sua população se comunica em idiomas que não dispõem de escrita.

Ainda assim, ressalvado o abismo da transição adaptativa, o desenvolvimento educacional, apesar de difícil, deu muitos passos significativos, e a Universidade de Angola, em Luanda, empreende esforço excepcional na formação de médicos, engenheiros, agrônomos e professores.

Na área de saúde, Angola conta com alguns bons hospitais, ativas enfermarias de aldeia e, embora sofra de grande carência de médicos e outros profissionais do setor, tem conseguido progressos contra a doença do sono (atacada com campanhas de vacinação), a hanseníase, o bócio e a malária. Os serviços médicos das missões protestantes têm alta reputação. 

Bandeira de Angola

Economia
A agricultura e a mineração constituem os principais esteios econômicos de Angola. O sisal, o café, a cana-de-açúcar e o algodão destinam-se à exportação. O milho, a mandioca e outras culturas tropicais completam a produção agrícola do país, combinada com uma importante atividade pecuária no sul e no sudeste (bovinos, ovinos, caprinos e suínos). No setor primário destaca-se ainda a produção de mel e cera de abelha, o extrativismo florestal e a pesca.

Em 1967 descobriram-se importantes depósitos de petróleo, cuja exploração, ao lado da extração de diamantes nas minas do noroeste, representa a principal riqueza mineral do país e é responsável pela maior parte do produto nacional bruto. Outros recursos minerais são o sal, o ferro, o cobre, o manganês, a bauxita e o linhito. Em 1975 também se detectaram depósitos de urânio perto da divisa com a Namíbia.

Luanda, capital de Angola
Luanda, capital de Angola
A indústria, nacionalizada em seus principais setores, concentra-se em Luanda (açúcar, têxteis, cimento) e nas cidades da costa sul (farinha, bebidas, calçados e conservas). O comércio exterior de Angola baseia-se na exportação de produtos agrícolas e minerais, cujas receitas supera o valor das importações de maquinaria, equipamentos industriais, bens de consumo e produtos alimentícios e têxteis. Angola conta com um aeroporto internacional e com uma rede de rodovias e estradas de ferro que liga os portos marítimos às zonas do interior. 

História
O território de Angola foi ocupado primeiramente pelos bosquímanos, de economia assentada na caça e na coleta, mas de inegável originalidade cultural, conforme atestam interessantes vestígios arqueológicos, neolíticos. Em seguida os bantos dominaram a região, já de posse de técnicas agrícolas e metalúrgicas. Por volta do século XV tinham dado lugar, politicamente, aos bacongos, que estabeleceram um reino vasto e complexo no noroeste, sob a orientação de seu soberano Manicongo.

Quando em 1482 o navegador português Diogo Cão desembarcou no litoral de Angola, entrou em entendimentos com Manicongo, que enviou representante a Lisboa. Quase um século depois, Paulo Dias de Novais fundou Luanda (1575) e estabeleceu condições para a colonização. Em meados do século XVII a soberania portuguesa estava consolidada e tinha por atividade econômica principal o comércio de escravos para o Brasil. Dois povos de Angola, os ndongos e os imbangalas, ofereceram forte oposição ao tráfico escravista, os primeiros até numa rebelião que em 1671 os portugueses sufocaram. No século XVIII Portugal teve de disputar os escravos angolanos com ingleses, franceses e holandeses.

No começo do século XIX a legislação contra a escravatura, que se impôs na Inglaterra e logo ganhou terreno em outros países, entre os quais os Estados Unidos, por algum tempo favoreceu os portugueses, que mantiveram o tráfico clandestinamente. No entanto, em 1836 a própria corte portuguesa o proibiu, o que durante muitos anos não se levou a sério, mas se somou ao fato de na época a escravidão já estar quase abolida.

Em Angola, o Código do Trabalho Indígena (1875), estabelecendo a obrigatoriedade do trabalho da mão-de-obra nativa, mostra que os colonizadores estavam determinados a explorar a terra de maneira mais sistemática e severa. O Brasil estava independente, as colônias na África requeriam toda a atenção: foi a época das famosas expedições de Serpa Pinto, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo, de missões religiosas instauradas em Salvador do Congo e Huíla. Portugal procurava corresponder à doutrina do hinterland, sancionada em 1844 na conferência de Berlim (toda potência europeia que reclamasse um território teria de ocupá-lo efetivamente).

Em 1896 os portugueses nomearam seu primeiro comissário real na colônia e em 1902 providenciaram a construção da estrada de ferro de Benguela. De 1912 a 1916 o regime de trabalho nativo passou por melhorias e reformas, e em 1921 criou-se o Alto Comissariado em Angola. O general Norton de Matos, que o dirigiu, passou a criar incentivos para a colonização por parte de imigrantes brancos. O Alto Comissariado foi extinto com a promulgação (1930), por Salazar, do Ato colonial. Este, entre outros aspectos, regulamentava a questão do trabalho nativo com o chamado "regime de contrato", que todavia manteve alguns dos traços peculiares ao velho código. Para a economia, houve ganhos.

A população de imigrantes brancos começou a crescer mais depressa: de sessenta mil em 1933 chegava a mais de 170.000 em 1960. A denominação de "colônia" foi substituída, em 1951, por "província ultramarina", e em 1954 fixaram-se condições, no chamado Estatuto dos Indígenas, para seu acesso à cidadania portuguesa.

Paralelamente, ganhava força o nacionalismo. Embora já tivesse importantes antecedentes na década de 1920, na de 1950 a aspiração nacionalista explodiu em todo o continente, enquanto os princípios, as bases e ideologias do colonialismo eram questionadas e por fim amplamente condenadas na Europa. Em Angola, como em outros países africanos, o movimento adquiriu intenção libertária e objetivos socialistas, criando-se (1956) o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), depois (1962) a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e ainda (1966) a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), entidades ferozmente discordantes.

A guerra de guerrilhas prolongou-se por quase toda a década de 1960. Em 1974, com o fim do salazarismo, negociações com as autoridades portuguesas culminaram no Acordo de Alvor, que tornou Angola independente em 11 de novembro de 1975. Pela constituição, o país passou a ser uma república popular, apoiada na Assembleia do Povo, de partido único, o MPLA/PT (Movimento Popular pela Libertação de Angola/Partido do Trabalho). O governo de Agostinho Neto (MPLA) subjugou as facções rivais, recebeu apoio político-militar soviético e depois a cooperação de tropas cubanas, o que causou grande polêmica internacional.

Em 1977 o governo teve de esmagar um golpe articulado em Luanda, enquanto a guerrilha da UNITA continuava a desafiá-lo no sul. Em 1979 deu-se a primeira invasão sul-africana do território angolano, a pretexto de desalojar guerrilheiros da Namíbia, administrada por Pretória. Agostinho Neto morreu no mesmo ano, e foi nomeado presidente José Eduardo dos Santos. Na década de 1980 a África do Sul invadiu periodicamente o sul de Angola. Chegou a bombardeá-lo (1985), oferecendo apoio e armas à UNITA, que em 1990 sabotou 14 oleodutos e manteve o país em guerra civil até o Tratado de Washington (dezembro daquele ano).

Por um acordo de paz firmado em 1991 entre MPLA/PT e UNITA, garantiu-se a realização de emendas à constituição que transformavam o país numa democracia multipartidária, atribuíam o poder legislativo à Assembleia Nacional (223 membros eleitos para um mandato de quatro anos) e agendavam eleições diretas para presidente da república para 1992. Santos venceu as eleições com quase cinquenta por cento dos votos, mas foi acusado de fraude e corrupção por Savimbi, da UNITA, que reacendeu a guerra civil. O governo condicionou a aceitação de um cessar-fogo ao restabelecimento do acordo de paz de 1991.

Cultura. O Conselho Geral de Cultura, órgão estatal, orienta a recuperação e preservação das tradições culturais e artísticas do país, adaptando-as à ideologia política. Conservam-se em museus de Luanda valiosas relíquias da história e da etnografia angolanas. Os carnavais de Luanda e Lobito, com origens e ritmos semelhantes aos do carnaval brasileiro, mobilizam cada vez mais o interesse dos visitantes.

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www.klimanaturali.org
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