Geografia e História da Argentina

Geografia e História da Argentina

Geografia e História da ArgentinaA Argentina localiza-se na região meridional da América do Sul, na latitude do paralelo 22o ao 55o e na longitude do meridiano 54o ao 74o. São mais de 3.700km do extremo norte ao extremo sul, desde as proximidades do trópico de Capricórnio até o pólo sul, e mais de 1.400km de leste a oeste. Limita-se ao norte com a Bolívia; a nordeste com o Paraguai, pelas fronteiras naturais dos rios Pilcomayo, Paraguai e Paraná; a leste com o Brasil e o Uruguai, através do rio Uruguai, e com o oceano Atlântico, também limite de sudeste, em mais de 4.700km de litoral; e a oeste com o Chile, pela cordilheira dos Andes.

A característica mais peculiar da Argentina é a convivência histórica entre a forte herança cultural européia e as tradições rurais e regionalistas. O poderio econômico da oligarquia latifundiária não impediu que o país conquistasse níveis de desenvolvimento próprios de nações do primeiro mundo. O alto grau de escolaridade da população, o nível da renda e o avanço e a diversificação da economia fazem dos argentinos um povo privilegiado entre os sul-americanos. Sua conturbada história política contemporânea e a dependência ao capital estrangeiro, no entanto, fecharam-lhe o caminho do pleno desenvolvimento.

Segundo país da América do Sul em extensão territorial, depois do Brasil, a Argentina ocupa uma superfície de 2.780.400km2, excluindo-se os 12.200km2 das ilhas Malvinas (Falklands), ocupadas pelo Reino Unido. O país reivindica direitos de posse sobre as ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, também sob ocupação britânica, e sobre um trecho da Antártica.

Geografia física
Geologia e relevo. O território argentino estende-se longitudinalmente entre a cordilheira dos Andes e o oceano Atlântico. Caracteriza-se pela variedade de paisagens físicas resultantes da transição entre as zonas montanhosas do oeste e as planícies do leste.

A cordilheira dos Andes provém de movimentos orogênicos (fenômenos que determinam a formação de montanhas) do plioceno, no período quaternário. Avança pela Argentina com montanhas elevadas, que sustentam um vasto planalto semidesértico e cheio de depressões salinas, denominado Puna de Atacama, a três mil metros acima do nível do mar. Situam-se nessa região setentrional importantes maciços vulcânicos, entre os quais se destaca o Lulullaillaco, com 6.723m, um dos cumes mais altos do continente. Na direção leste, encontra-se a cordilheira Oriental, conjunto de serras elevadas, com neve eterna em seus picos mais altos, e em seguida situam-se as serras subandinas, que confinam com a província do Chaco.

Entre os Andes centrais, a oeste, e as serras de Córdoba e San Luis, a leste, abre-se um extenso vale, separado do território chileno pela cordilheira Principal, onde se encontram as maiores elevações, inclusive o ponto culminante de toda a América, o Aconcágua (6.959m), bem como os picos Mercedario (6.770m) e Tupungato (6.550m). Do paralelo 36o em diante, na direção do sul, os Andes se estreitam e perdem altura. Seu prolongamento na Patagônia apresenta raras elevações acima de 3.500m, como a do monte Mellizo, junto à Laguna Grande.

A leste dos Andes e ao norte da Patagônia, estende-se uma vasta planície de características variadas. Ao longo das bacias do Paraná e Paraguai, localiza-se o Chaco, região subtropical e arenosa, ligeiramente inclinada para sudeste. Em alguns pontos do nordeste (Misiones), afloram rochas areníticas e basálticas pertencentes ao escudo pré-cambriano brasileiro. O resto da região se acha coberto por sedimentos de diversas épocas, como o loess (depósitos quaternários de origem glacial), rico em calcário. A leste do Chaco, entre os rios Paraná e Uruguai, localiza-se a planície da Mesopotâmia argentina, que não apresenta unidade morfológica nem geológica. O principal elemento de seu relevo é a meseta Misionera, na província de Misiones e nordeste de Corrientes.

Entre o sopé dos Andes e o oceano Atlântico, ao sul do rio Salado e ao norte do Colorado, situa-se o Pampa, em todos os aspectos a paisagem mais representativa da Argentina. A vasta planície pampeana caracteriza-se pela horizontalidade. Compreende em sua composição sedimentar diversas eras geológicas. Seus solos são muito ricos (loess e limos muito espessos). Embora bastante homogêneo em sua topografia, o Pampa apresenta áreas mais onduladas, ganha altura nas serras do Tandill e Ventana e, no vale do rio Salado, mergulha em depressão tectônica. Abaixo do rio Negro e do golfo de San Matías, entrando na Patagônia, já não se pode falar de planície, mas de mesetas em que se sobrepõem sedimentos secundários e terciários que foram igualados no fim da era glacial.

Geografia e História da ArgentinaClima
Grande parte do território argentino está situado na zona temperada do hemisfério sul. Verificam-se no país climas tropicais e subtropicais, áridos e frios, com combinações e contrastes diversos, resultantes das variações de altitude e outros fatores. Em quase todas as regiões da Argentina registram-se nevadas ocasionais, exceto no extremo norte, onde predomina um clima tropical. Nessa mesma área, os dias são quentes de outubro a março e frios e secos de abril a setembro.

Mais amenos são os índices predominantes no Pampa, úmido e fresco em sua parte oriental, nas províncias de Buenos Aires e La Pampa. Os verões, embora intensos, em Mar del Plata não ultrapassam uma média superior a 21o C. Mais seco para o lado do oeste e Mendoza, o clima do Pampa, nessa faixa, tem suas chuvas de verão rapidamente evaporadas.

Nas proximidades da cordilheira dos Andes, de noroeste até a serra do Payén, na província de Mendoza, verifica-se freqüente alternância de climas árido e semi-árido, este com maior expressão nos pontos mais altos da própria cordilheira. De quatro mil metros para cima, as precipitações são escassas e as temperaturas muito baixas, entre neves eternas. Na parte meridional dos Andes as chuvas são bastante favorecidas pelos ventos úmidos do Pacífico, que vencem a barreira descomunal e chegam às províncias do sul. As condições de umidade e temperatura levam à formação de geleiras.

De um modo geral, a Patagônia é de clima seco e frio, com fortes e constantes ventos soprados do oeste. Mais ao sul, na Terra do Fogo, os ventos são ainda mais fortes, a chuva e a neve, quase permanentes, e a temperatura cai a níveis muito baixos.

Hidrografia
Contam-se três redes hidrográficas em território argentino: a da vertente atlântica, que é a mais importante, a do Pacífico, na parte sul da cordilheira dos Andes, e as bacias endorréicas -- ou internas -- que ocupam um terço da superfície total do país.

Do lado do Atlântico, destaca-se o rio da Prata, nome que se dá ao estuário que é fruto do encontro dos rios Paraná e Uruguai com o oceano Atlântico. Tem mais de 300km de comprimento, largura que chega a 200km e descarga média de 23.300m3 por segundo, perdendo na América do Sul somente para a do Amazonas.

O rio Paraná é um dos 15 mais extensos do mundo e tem 1.800km em terras argentinas, sendo mais de 400 navegáveis (até Santa Fe). Seus afluentes mais importantes são, na margem direita, o Paraguai, o Salado e o Carcarañá, e na margem esquerda o Iguaçu, com o qual, na confluência que é ao mesmo tempo argentina, brasileira e paraguaia, forma as famosas cataratas, num arco de quatro mil metros.

O rio Paraguai só tem um pequeno trecho argentino, de margem direita, na fronteira das províncias de Chaco e Formosa com o Paraguai, mas juntamente com seus afluentes Pilcomayo e Bermejo inunda as planícies da região na época das chuvas, criando lagunas e banhados. Já o rio Uruguai marca as fronteiras de Misiones, Corrientes e Entre Rios com o Brasil (Rio Grande do Sul) e o Uruguai. Na maior parte desse percurso é navegável.

Muitos dos rios da vertente atlântica que correm na Patagônia, ou se dirigem para essa região, têm poucos afluentes, com o traço peculiar de irem perdendo parte de suas águas à medida que avançam. Os principais são o Colorado, o Negro (formado pelo Neuquén e Limay), o Chubut, o Deseado e o Chico, este nas imediações da Terra do Fogo.

No interior mais árido e plano são muitas as pequenas bacias hidrográficas que não chegam ao mar. No planalto de Atacama, de chuvas escassas e águas que provêm do degelo de altos picos da cordilheira, diversos rios têm curso intermitente ou desaparecem, quer nas lagoas, quer no meio de um dos numerosos salares, depósitos salinos comuns no oeste e sobretudo noroeste do país. Das planícies do Chaco, só conseguem sair o Pilcomayo, o Teuco e o Bermejo, que terminam no rio Paraguai, ou o Corrientes, que mergulha no Paraná. Muitos dos rios de importância econômica nos Pampas, por se prestarem a obras de irrigação, esgotam-se sob a intensa evaporação ou absorção pelos solos arenosos.

Mais ao sul, na província de Mendoza, há uma ampla bacia interna formada por rios e riachos que descem dos Andes e raramente chegam às províncias vizinhas de La Pampa e Neuquén. Por isso o lugar tem o nome de Desaguadero (Desaguadouro), mas outros há, parecidos, nos planaltos patagônicos. A vertente do Pacífico também tem início no segmento dos Andes que passa por Mendoza, entre os meridianos 30o e 35o: são cursos de água pequenos que começam no alto da cordilheira, atravessando o estreito território do Chile.

Bastante representativos da paisagem física argentina no sul dos Andes são os lagos e lagoas, mais de 400, alguns de grande beleza e interesse turístico, como o Nahuel Huapí, junto ao qual fica San Carlos de Bariloche, dentro de esplêndido parque nacional. Há ainda o Colhué Huapí e o Buenos Aires, na província de Chubut; na de Santa Cruz, o San Martín, o Argentino, o Cardiel, o Viedma; e, na Terra do Fogo, o Fagnano.

Flora e fauna
Há uma grande diversidade de flora e fauna no território argentino, diretamente determinada pelas correspondentes diferenças de clima, solo e outras condições materiais. No norte da Mesopotâmia argentina, quente e úmido, predominam as matas subtropicais, em que se identificam espécies como o cedro, o ipê, a erva-mate, o pinheiro, as longas samambaias, bambus e cipós. Junto ao leito dos rios, essa vegetação se estende até a parte sul da planície mesopotâmica.

No Chaco, a paisagem mais constante é parecida com a do cerrado brasileiro, coberta de gramíneas e palmeiras esparsas. Destaca-se na parte mais chuvosa ou junto aos rios a ocorrência de quebracho, o principal item da exploração florestal do país, e outras madeiras úteis, como lapacho e urundaí. Áreas desérticas e semidesérticas encontram-se nos Andes, na Patagônia extra-andina e a sudoeste do Chaco. Paraíso das gramíneas, a região dos Pampas quase não tem árvores. No leste mais seco, chega a abrigar plantas especialmente adaptadas à aridez, compondo às vezes um matagal arbustivo intermitente.

A fauna argentina apresenta muitas das espécies características da América do Sul, embora menos variada que nas regiões tropicais. Há grande quantidade de aves, répteis e roedores. Entre os mamíferos estão a onça-pintada, a suçuarana, o gato-dos-pampas. Há raposas em várias regiões e, na mata subtropical, o macaco guariba é bastante encontrado, bem como a doninha, a anta, o tamanduá-bandeira, o tatu, diversas espécies de cervo e, nas regiões andinas, a lhama, a alpaca, a vicunha e o guanaco.

A ordem dos roedores é bem representada, com capivaras e vários tipos de coelho. Os répteis incluem a jibóia e peçonhentas como a cobra-coral e a cascavel, além de jacarés e lagartos. São particularmente numerosas as espécies de aves, de muitos papagaios e poucas emas e gansos selvagens, garças, gaviões e, no alto dos Andes, o condor. No extremo sul do país, a fauna do litoral gelado conta com muitas das espécies peculiares a essa paisagem, como os pingüins, as focas, os lobos-marinhos.

População
Ao contrário de quase todos os outros países da América do Sul, o europeu branco tornou-se o principal componente racial do povo argentino. A distribuição geográfica da população mostrou-se desigual, com uma concentração cada vez maior nas metrópoles litorâneas e nas regiões férteis do interior.

Havia poucos habitantes no país quando principiou a colonização espanhola. Alguns dos grupos indígenas existentes, sobre os quais ainda influía a civilização dos incas, ocupavam pequenas áreas das elevações dos Pampas, nas proximidades da cordilheira, nos vales dos rios Paraguai e Paraná. Eram os araucanos, guaranis e diaguitas, estes mais assemelhados aos quíchuas. A luta contra as belicosas tribos caçadoras e a escassa afluência de imigrantes mantiveram o crescimento demográfico em níveis relativamente baixos durante o período colonial. Quando o país proclamou sua independência da Espanha (1816), não tinha mais de 400.000 habitantes. Atualmente a Argentina tem cerca de 42,5 milhões de habitantes.

Da segunda metade do século XIX em diante, a Argentina passou a estimular ao máximo a mobilização de imigrantes europeus para ocupar suas regiões mais férteis. Em 1860 a população já subira para mais de 1.700.000 e meio século depois tinham chegado seis milhões de imigrantes, verificando-se o predomínio constante dos espanhóis e italianos, a que se juntava um contingente originário da própria América do Sul. Esse fluxo migratório foi além da segunda guerra mundial, mantendo-se até 1956.

De 1960 em diante a instabilidade política e os problemas econômicos alimentaram o processo inverso, levando muitos cidadãos argentinos a emigrarem para outros países. Apesar disso, a população em geral continuou crescendo, mas moderadamente, a uma taxa média anual de 1,5%. Além de Buenos Aires, tornaram-se importantes as cidades de Córdoba, Rosario, Mendoza e Mar del Plata, com grande concentração demográfica.

Buenos Aires
Buenos Aires

O índio e o negro praticamente desapareceram. Embora o elemento mestiço seja substancial nas províncias contíguas ao Chile, Bolívia e Paraguai, e haja comunidades de índios puros no noroeste do país, os centros populosos da Argentina, e em particular a capital, tornaram-se quase cem por cento brancos. No fim do século XX, o território argentino abrigava pouco mais de cem mil indígenas. 

Economia
A falta de uma sólida infra-estrutura industrial, a escassez de capitais, a exportação fundamentada no setor primário, os conflitos sociais e trabalhistas e a instabilidade política foram alguns dos empecilhos à prosperidade de um país que, se não é subdesenvolvido, apresenta aspectos próprios das economias do Terceiro Mundo.

Na segunda metade do século XIX, a Argentina registrou rápido desenvolvimento econômico, com a colonização do Pampa e o início das exportações. Todavia, a distribuição das terras entre grandes latifundiários e pequenos proprietários e a ausência de uma autêntica classe média agrária cercearam a renovação técnica da lavoura. A economia argentina tendia à estagnação e a uma excessiva dependência das flutuações do mercado internacional. Essas deficiências estruturais ficaram patentes a partir de 1930, quando os mercados americano e europeu se fecharam aos produtos agropecuários.

A estagnação econômica aprofundou-se depois da segunda guerra mundial, apesar dos esforços do governo para industrializar o país e minorar os efeitos da inflação crescente. A crise de 1958, a seca de 1962 e a alta nos preços do petróleo na década de 1970 agravaram ainda mais os problemas econômicos da nação. Houve tentativas para resolvê-los com planos de desenvolvimento agrícola e industrial, cujo êxito nem sempre foi o desejado. A exploração das jazidas petrolíferas a partir de 1967, o aumento na produção de energia hidrelétrica e a ampliação e aperfeiçoamento dos sistemas de irrigação foram algumas das principais conquistas da Argentina no plano econômico, na segunda metade do século XX.

Agricultura e pecuária
Com seus diferentes solos e condições climáticas, a Argentina pôde diversificar sua produção agrícola em culturas intensivas e adequadas às características de cada região. A meta principal tem sido a dos cereais. Faz-se ótima rotação, nos Pampas, de trigo e milho com linho e alfafa. Cultivam-se também o centeio, a cevada, a aveia e, na Mesopotâmia, o arroz.

Nas províncias de San Juan e Mendoza, cujos vales foram contemplados com expressivas obras de irrigação, desenvolveu-se variada fruticultura, que incluem vinhedos, olivais e diversas espécies cítricas, como o limão, a laranja e a toranja (grapefruit). Concentram-se nessas terras os melhores produtores de vinho, que o exportam para muitos países. Outras províncias em que se plantam frutas são Catamarca, La Rioja e Río Negro.

Em Misiones, as plantações são de chá e erva-mate, de alto consumo interno. A cana-de-açúcar, primordial na indústria de alimentos, é cultivada principalmente em Tucumán e, em proporções menores, nas províncias de Salta, Jujuy e Chaco. Nesta última também se tornam importantes outras culturas de notável valor industrial como a das sementes oleaginosas (soja, sorgo, girassol e linhaça) e a de fibras têxteis, especialmente linho e algodão, devendo-se ainda lembrar o tabaco, plantado também em Salta e Misiones.

Por muito tempo a pecuária foi a maior, se não única, riqueza dos argentinos. No século XVII constituía uma criação de subsistência e só se comercializava o couro. Quando se inventou e se começou a usar a técnica do charque, em meados do século XVIII, o país passou a exportar carne. No fim do século XIX, a seleção de espécies bovinas, o emprego de grandes frigoríficos e a ligação ferroviária dos centros criadores com os portos de Buenos Aires, Rosario e Bahía Blanca tornaram possível a exportação de carne bovina em grande quantidade, inclusive para os Estados Unidos e Reino Unido.

O mercado interno foi importante desde o início, pois a carne é tradicionalmente um dos componentes principais da alimentação argentina.

Embora disponha de matas que comportam, sem agressão ecológica, uma exploração equilibrada e potencialmente rentável, a Argentina ainda não desenvolveu a silvicultura, em grande parte devido à distância das fontes de matéria-prima em relação aos grandes centros. Na província de Misiones, o pinheiro, o cedro e o pau-rosa vêm sendo aproveitados no fabrico de celulose. Em Santiago del Estero, do quebracho se extrai madeira dura e tanino. Nas montanhas da Patagônia, o pinheiro e o lariço têm crescente utilização econômica.

A atividade pesqueira, de enorme potencial nas costas da Patagônia, é dificultada pela falta de mão-de-obra e de portos nessa região. Os hábitos alimentares da maior parte da população excluem quase completamente o consumo de pescado.

Minas e energia
A Argentina é rica em recursos minerais, que permanecem em grande parte inexplorados por falta de uma relação adequada entre as riquezas naturais e os meios dedicados a seu aproveitamento. O noroeste é a região em que se acham os centros de mineração mais importantes. Ali se extraem chumbo, estanho, zinco, ouro, prata, cobre, ferro, bismuto, tungstênio, volfrânio, manganês, amianto, além de gesso e sal. Entre os minerais não-metálicos, sabe-se de valiosos depósitos de cobalto, enxofre, tântalo e urânio. Há também importantes concentrações de ferro em Río Negro e outros pontos da Patagônia.

Com parcas jazidas de carvão no extremo sul de seu território, a Argentina, desde o princípio do século, teve bons resultados na extração de petróleo e gás natural. Seus lençóis de maior produtividade e potencial localizam-se nas províncias de Chubut (especialmente em Comodoro Rivadavia), Santa Cruz, Río Negro, Neuquén e Salta. A estatal do setor, Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), assumiu em 1922 o controle da produção do petróleo e de sua importação. Na década de 1980, o petróleo e seus derivados constituíam dez por cento das importações argentinas, embora durante esse período o crescimento da produção nacional caminhasse rapidamente para a auto-suficiência. Aumento ainda mais auspicioso vinha tendo a extração de gás natural, de procura cada vez maior na expansão do parque industrial e das comunidades urbanas. As jazidas de gás se acham junto aos lençóis petrolíferos e modernos gasodutos fazem sua ligação com Buenos Aires e Bahía Blanca.

Os rios que descem da fronteira oeste e grande extensão dos que cortam o nordeste argentino -- basicamente as bacias do Paraná e Uruguai -- encerram alto potencial hidrelétrico. As usinas existentes foram construídas na serra de Córdoba, no rio Uruguai e no Río Negro. Havia imensas represas em construção, em particular a da hidrelétrica de Yaceretá, em cooperação com o Paraguai, mas a maior parte da eletricidade do país, no início da década de 1990, provinha de usinas termelétricas. Nessa mesma época, a Argentina dispunha das maiores instalações de energia atômica da América Latina, na usina de Atucha.

Indústria. Apesar dos problemas estruturais de sua economia, a Argentina destacou-se como um dos países mais industrializados da América do Sul, com grande potencial de desenvolvimento. Nas duas últimas décadas do século XIX, surgiram as primeiras fábricas, voltadas para o beneficiamento de produtos agropecuários destinados à exportação. Além disso, começou a construção das principais estradas de ferro e das instalações portuárias de Buenos Aires e de outras cidades do litoral atlântico.

Durante a primeira guerra mundial, enquanto a exportação de alimentos recebia novo impulso, a importação de manufaturados foi praticamente suspensa. Como no caso do Brasil, o fato representou poderoso estímulo para a expansão industrial, já que foi preciso substituir os bens de consumo até então importados por similares produzidos internamente. O processo encontrou graves obstáculos na crise de 1929, que afetou todo o mercado mundial e deu origem a um difícil período de estagnação da economia argentina por toda a década de 1930 até a segunda guerra mundial, que levou a um novo surto de exportação de alimentos e de industrialização.

No início da década de 1990, a indústria argentina de transformação, sobretudo alimentícia e têxtil, abrangia uma vasta relação de produtos, entre os quais se destacavam, pela quantidade e qualidade, açúcar, conservas de origem vegetal e animal, azeite de oliva, óleos vegetais, cerveja, vinho, álcool, fibras de algodão, lã e sintéticos.

Apesar do modesto desempenho das indústrias siderúrgica e metalúrgica argentinas, não diminuiu nos últimos anos a capacidade de produção das montadoras de automóveis, tratores e mesmo, em escala menor, veículos militares e aviões. Os maiores centros industriais, além de Buenos Aires, são Córdoba, Tucumán, Rosario, Mendoza, Salta e Jujuy. Um setor que tomou forte impulso graças à produção petrolífera nacional foi o da indústria química, representado por numerosas fábricas de medicamentos, fertilizantes, colas, ácido sulfúrico, metanol, etileno, propileno, soda cáustica e pneus. Também não podem ser esquecidos dois outros itens de expressão considerável, o cimento e o papel.

Comércio, turismo, finanças. As exportações argentinas são constituídas, fundamentalmente, de produtos agropecuários (cereais, frutas, verdura, forragem, óleos vegetais, manteiga, carne e derivados, couro e peles), mas na segunda metade do século XX observou-se uma crescente participação da indústria nessa atividade, particularmente no que diz respeito aos derivados de petróleo. Em contrapartida, o país tem uma pauta de importações que prioriza o próprio petróleo com que ainda complementa sua produção, matérias-primas industriais, produtos químicos, máquinas e veículos de transporte. Os parceiros mais importantes do comércio exterior argentino são a Comunidade Européia (CE), a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), os Estados Unidos e a Comunidade de Estados Independentes (CEI).

A Argentina tem bancos estatais e particulares, um grande número de estabelecimentos cuja atividade se exerce sob controle do Banco Central, que também preserva as divisas estrangeiras e o lastro de ouro, além de emitir a moeda. Da década de 1960 em diante, o país enfrentou o aumento da inflação, que chegou a ultrapassar a marca dos mil por cento. Após um período de contínua desvalorização da moeda, o governo argentino criou o peso novo em 1970, equivalente a cem pesos antigos. Em 1983 houve outro ajuste monetário e um novo peso foi lançado, valendo dez mil do anterior. Em 1985 outro acerto se tornou premente e deu-se à moeda o nome de austral, com o valor de mil novos pesos. Dessa fase até o início da década de 1990 houve um período de relativa estabilidade, com a adição de programas econômicos de controle da inflação e de saneamento das finanças do estado.

Em abril de 1991, a lei de livre conversibilidade da moeda dolarizou a economia argentina, que experimentou a partir de então um significativo decréscimo do processo inflacionário. Sua intensidade ao longo de muitos anos, todavia, fez crescer e agravar-se outro pesado ônus da economia nacional: a dívida externa, uma das maiores do continente.

Transportes e comunicações
A hipertrofia urbana e a enorme centralização da metrópole portenha exerceram influência determinante no traçado original do sistema viário argentino, um dos mais extensos da América Latina. Em função do desenvolvimento agropecuário nos Pampas e no Chaco, essas regiões tiveram o privilégio de ótima comunicação com a capital federal, em detrimento de muitas paragens do sul ou dos Andes, que se mantiveram ilhadas.

As estradas de ferro começaram a ser implantadas no país em pleno século XIX, com capital e técnica estrangeiros, especialmente ingleses e franceses. A partir de 1947, o estado tornou-se responsável pela propriedade e conservação de toda a rede que chegava na década de 1990, a 35.000km, mais do que em qualquer outro país latino-americano, com destaque para a estrada de ferro que ligava Buenos Aires a Valparaíso, no Chile, através dos Andes.

A partir da segunda metade do século XX, com a produção automobilística, as estradas de rodagem aumentaram em quantidade e volume de tráfego, embora a rede ferroviária continuasse a ser utilizada para aproximadamente a metade do transporte de carga. Rodovias de primeira classe vão de Buenos Aires a Rosario, Córdoba, Tucumán, Bahía Blanca e Neuquén. A Argentina também se liga aos países limítrofes e ao resto do continente pela rodovia Pan-Americana.

A Argentina tem em Buenos Aires seu mais importante porto internacional e de cabotagem -- por mar e pelos rios --, vindo em seguida La Plata e Bahía Blanca. A navegação fluvial estende-se a mais de três mil quilômetros de distância do mar, pelos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e Negro, sendo seus respectivos portos principais Rosario, Santa Fe, Concepción, Formosa e Neuquén.

O transporte aéreo, de importância crescente, está a cargo de várias companhias nacionais (especialmente as Aerolíneas Argentinas) e estrangeiras. Os principais aeroportos internacionais são o de Ezeiza, a quarenta quilômetros de Buenos Aires, e o Aeroparque, no centro da capital.

A Argentina possui uma das mais extensas redes de telefonia da América Latina, a maior parte instalada em Buenos Aires. A Empresa Nacional de Telecomunicações realiza os serviços de comunicação internacional por satélite e é responsável pela renovação das redes de telegrafia e radiotelegrafia. 

História
Desde os começos da ocupação de seu território, em que o próprio pioneirismo parecia pautado por objetivos e atitudes conflitantes, a Argentina sempre viveu sua história com luta e inquietação, rivalidades regionais, divergência entre classes e facções. No meio dessas chamas politizou-se, adquiriu vigorosa combatividade social e perfil inconfundível como nação, mas até hoje tem problemas para se integrar em torno de uma perspectiva segura e de decidido projeto nacional.

Descobrimento e colonização
É difícil afirmar qual o primeiro navegador que pisou em terras argentinas. Pode ter sido o florentino Américo Vespúcio e podem ter sido portugueses. Foi em nome da coroa espanhola, porém, que se fez a comunicação oficial do descobrimento, sob a responsabilidade de Juan Díaz de Solís, que desembarcou (1516) em Candelaria (hoje Maldonado), descobrindo o mar Dulce ou de Solís, mais tarde rio da Prata. O navegador pereceu pouco depois com quase todos os seus homens, atacado -- e provavelmente devorado -- por guaranis. Uns poucos remanescentes chegaram ao Brasil, contando fantásticas histórias sobre o império de um rei branco onde haveria uma montanha repleta de prata. O relato, que lhe teria chegado pelos índios, por certo se referia aos incas, então ainda não conquistados. Para portugueses e espanhóis, o portal daquele prodígio devia ser o "río de la Plata".

O território argentino, nessa época, era habitado por diversos povos indígenas, somando uma população que beiraria os 300.000. Os espanhóis tentaram utilizá-los como mão-de-obra, o que só chegou a dar certo com os que já se dedicavam à agricultura, no norte da Mesopotâmia e nas serras do noroeste. No entanto, no sul da Mesopotâmia, no Chaco, nos Pampas e na Patagônia, as tribos de caçadores mostraram-se hostis à colonização, opondo-lhe constante resistência.

Seis anos depois de Fernão de Magalhães descobrir o estreito que tomou seu nome e liga os oceanos Atlântico e Pacífico, o genovês Sebastiano Caboto entrou no estuário do Prata, fundou a fortaleza de Sancti Spiritus e, embora não achasse prata, teve novas informações sobre um vasto império a noroeste da região. Foi o ponto de partida para o interesse do imperador espanhol Carlos V, que confiou a colonização do território a Pedro de Mendoza. Este, em 3 de fevereiro de 1536, fundou o forte de Nuestra Señora Santa María del Buen Aire, núcleo inicial da cidade de Buenos Aires, logo abandonado (1541) aos índios que o atacavam. No ano seguinte seria fundada a cidade de Assunção (mais tarde capital do Paraguai), a partir da qual as terras argentinas passaram a ser colonizadas.

Com a conquista do império inca, as atividades econômicas da bacia do rio da Prata passaram à função de abastecer os trabalhadores da mineração no vice-reinado do Peru. Juan de Garay fundou Buenos Aires pela segunda vez em 1580, enquanto surgiam outros centros urbanos na rota para Assunção: Santiago del Estero (1553), Mendoza e San Juan (1562), Tucumán (1565), Córdoba e Santa Fe (1573), Salta (1582), Corrientes e Paraná (1588) e La Rioja (1591). A divisão e administração da terra sob o regime das encomiendas não deu bons resultados por falta de mão-de-obra habituada ao trabalho agrícola. A principal atividade econômica passou a ser a vaquejada, ou caça de gado selvagem, praticada pelos gaúchos (mestiços de espanhol e índio, nesses tempos de rara imigração). Os missionários jesuítas, a partir de 1585 e particularmente na província de Misiones, lançaram as bases da educação nacional.

O vice-reino do Peru em 1617 dividiu o governo do Paraguai e Rio da Prata em duas províncias -- de que Asunción e Buenos Aires se tornaram as capitais --, enquanto a de Tucumán viu-se palco de um choque permanente dos colonizadores (vindos do Chile e Peru) com os índios da região, a duras penas subjugados. Em 1776, do largo território que compreendia a atual Argentina, o Paraguai, o Uruguai e o sul da Bolívia, fez-se um vice-reino à parte, tendo Buenos Aires como capital. Foi seu primeiro grande impulso.

Com a legislação do Comércio Livre da Espanha e Índias (1778), a cidade passou a ter enorme movimento como porto, em negócios -- principalmente de couro -- com o Brasil, a Grã-Bretanha e a França. As vantagens assim auferidas pelo entreposto portenho alimentaram a rivalidade de outros pontos e províncias da futura nação.

Independência e unidade
Estimulados pela recente aliança franco-espanhola, os ingleses em 1806 tomaram Buenos Aires. A cidade foi reconquistada pelas tropas de Santiago Liniers, mas diante da evidente insuficiência das forças espanholas para defendê-la, seus moradores organizaram-se em milícias. Sob influência da revolução francesa, uma burguesia urbana esclarecida derrubou o vice-rei Rafael de Sobremonte, colocando Liniers em seu lugar. Era o tempo das guerras napoleônicas; Espanha e Portugal foram ocupados. Em Buenos Aires, a hora era propícia à "revolución de mayo": em 25 de maio, uma assembléia de notáveis (a que pertenciam Manuel Belgrano e Mariano Moreno) depôs o vice-rei, que na época era Baltasar Hidalgo de Cisneros, e elegeu presidente o tenente-coronel Cornelio Saavedra.

Não houve, ainda, declaração de independência. Esperava-se a normalização da situação na Espanha, com a restauração de Fernando VII. Entrementes, o país se dividia. A junta derrotou os insubordinados de Córdoba e do Alto Perú, mas encontrou dificuldades com o Paraguai e a Banda Oriental (mais tarde Uruguai), onde o patriota José Gervasio Artigas batia-se bravamente. A parte boliviana foi retomada (1811) pelo vice-reino do Peru.

Os anos seguintes foram difíceis, mas produtivos. Desentendiam-se federalistas e unitários, revolucionários e moderados, republicanos e realistas. Uma Assembléia Constituinte (1813) reconheceu a liberdade dos nascidos escravos, extinguiu os tributos pagos pelos índios, acabou com os títulos de nobreza, liberou a exportação de cereais, instituiu o escudo e o hino nacional e escolheu como bandeira a que Manuel Belgrano criara um ano atrás. Em 1814, Fernando VII restaurou a monarquia. Após algumas dissensões e obstáculos, o congresso reunido em Tucumán a 9 de julho de 1816 proclamou a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata.

O governo deu apoio à campanha do general José de San Martín, que atravessou os Andes, derrotou os espanhóis em Chacabuco, e depois, com Bernardo O'Higgins, libertou o Chile nos combates de Maipú. San Martín, indiferente ao poder, ainda seguiu para o Peru e tomou parte (1824) na batalha de Ayacucho, que liquidou o domínio espanhol na América do Sul. Enquanto isso, a Banda Oriental era tomada pelos portugueses e os federalistas se sublevavam. A Assembléia Constituinte, já em Buenos Aires, reforçou o executivo e promulgou a Lei Fundamental de 1816, unitária e por isso rejeitada pela maior parte das províncias. Elegeu-se, então, o primeiro presidente da república, general Bernardino Rivadavia.

De 1825 a 1828 em guerra com o Brasil, que anexara a Banda Oriental como província Cisplatina, os argentinos, com mediação inglesa e em acordo com os brasileiros, reconheceram a independência do Uruguai. Internamente, federalistas e unitários chegavam à guerra civil: à frente dos primeiros, Juan Manuel de Rosas tomou o poder e impôs violenta ditadura (fim de 1829).

Seu governo foi tumultuado, mas militarmente bem-sucedido: derrotou os índios no sul, venceu a confederação Peru-Bolívia e enfrentou a França e a Grã-Bretanha, que respaldavam os uruguaios em constantes conflitos com a Argentina. Todavia, o governador de Entre Ríos, Justo José de Urquiza, auxiliado por tropas uruguaias e brasileiras, derrubou o ditador (1852) ao destroçar suas forças na batalha de Caseros.

Mas a desunião continuava. Contra esta, a Confederação Argentina foi fundada em San Nicolás e, em Santa Fe, preparou-se nova carta centralizadora, ainda que à revelia de Buenos Aires, que acabou por ceder à pressão exercida pelas províncias, militarmente persuasivas. Urquiza fomentou a agricultura e a educação, mas só a partir de 1862, com a eleição de Bartolomé Mitre para a presidência, iniciou-se uma etapa de mais união e prosperidade.

Houve, em seguida, a guerra do Paraguai. Em 1865, sendo a província de Corrientes invadida pelos paraguaios, a Argentina compôs com o Brasil e o Uruguai a Tríplice Aliança. Foram cinco anos de fogo e sangue, com milhares de mortos, que terminaram na vitória aliada. Com os governos de Domingo Faustino Sarmiento (1868 a 1874), que fortaleceu a administração e a escola pública, de Nicolás Avellaneda e do general Julio Argentino Roca (1880 a 1886), que acabou de esmagar a resistência indígena, o país consolidou-se politicamente e Buenos Aires tornou-se o Distrito Federal.

Século XX. Em torno de Roca e da prosperidade econômica, a organização social mostrava-se essencialmente conservadora e oligárquica, com base nos proprietários de terra e nos comerciantes: as exportações aumentavam, a imigração aproximava-se de seus melhores dias, intensificava-se a expansão do transporte ferroviário e a indústria leve já dava os primeiros passos, mas o poder e a riqueza estavam rigidamente concentrados. A crise da última década do século XIX, perturbadora, despertara revoltas. Criaram-se a Unión Cívica Radical, os primeiros núcleos de organização operária e ouviram-se as vozes do socialismo e do anarco-sindicalismo.

Havia denúncias de fraude em várias eleições. Reclamava-se a democratização do processo e, por iniciativa do presidente Roque Sáenz Peña, a reforma eleitoral instituiu, de 1914 em diante, o voto secreto e obrigatório para todos os homens. A mudança possibilitou a vitória (1916) do grupo radical. O primeiro presidente eleito de forma legitimamente democrática foi Hipólito Irigoyen, a um tempo paternalista e repressivo para com os operários, como na greve geral de Buenos Aires (1919), em que se valeu até do exército. Em seu segundo mandato, no qual sucedeu a Marcelo T. de Alvear, alcançou muita popularidade, que perdeu com a crise de 1929, de funda repercussão no país.

Nova maré conservadora inundou a Argentina, no meio de complicados problemas econômicos, sobretudo na relação com os ingleses, que no intercâmbio comercial se voltavam então quase exclusivamente para a própria Comunidade Britânica. Veio o golpe militar de 1930, de influência fascista, em virtude do qual ocuparam o poder os generais José Felix Uriburu e, em seguida, Agustín Pedro Justo, este por meio de eleições, ainda que fraudulentas. A Argentina, que declarou-se neutra na segunda guerra mundial, como fizera na primeira, foi dominada por variadas tendências de autoritarismo; civil, nos casos de Roberto Ortiz e Ramón Castillo; militar, em sucessivas experiências do período. Por pressões americanas, em 1944 teve de declarar guerra à Alemanha e ao Japão.

Por volta de 1943, começara a destacar-se a personalidade do coronel Juan Domingo Perón, que foi subsecretário da Guerra e ministro do Trabalho. Cativando especialmente os trabalhadores e descamisados, as camadas subalternas da igreja e das forças armadas, bem como uma parte do empresariado, Perón elegeu-se presidente da república em 1946, com 55% dos votos. Ajudara-o na campanha Eva Duarte (Evita), que se tornou sua mulher e tenaz colaboradora.

A ideologia peronista, chamada por ele justicialismo, configurou-se como um populismo autoritário e preocupado com a justiça social, com o progresso representado pelo desenvolvimento das indústrias, com o nacionalismo. Fizeram-se algumas reformas importantes, como a instituição do voto feminino e a criação dos sindicatos operários, mas não se fez nenhuma reforma agrária. Deu-se excessivo peso à máquina estatal e negligenciou-se a indústria pesada.

No início da década de 1950, a queda dos preços dos produtos agropecuários no mercado internacional, a inflação e o conflito com os opositores e a igreja (entre outras coisas, por abolir a obrigatoriedade do ensino religioso) fizeram com que Perón, apesar de reeleito (1951), começasse a perder terreno. Em 1952 morreu Evita, o peronismo se fez mais autoritário e foi vencido por um golpe militar. Em novembro de 1955, o general Pedro Eugenio Aramburu restabeleceu a constitucionalidade e três anos mais tarde a população elegeu, com o apoio dos peronistas, o radical Arturo Frondizi, que logo abandonou as promessas de campanha em favor das instruções do Fundo Monetário Internacional (FMI): desvalorização da moeda, restrições ao crédito, privatização de estatais, abertura ao capital estrangeiro e contenção salarial.

Os anos seguintes são de agravamento da crise econômica. Há outro golpe militar (1962), seguido de eleições em 1963, convocadas pelo general Juan Carlos Onganía -- que excluiu os candidatos peronistas. Foi eleito Arturo Illia, derrubado logo depois, em 1966, pelo mesmo Onganía. Este encontrou forte contestação social, inclusive o cordobazo, movimento estudantil e operário contra o governo, ocorrido em Córdoba. Com o assassínio de Aramburu pelos Montoneros, extrema-esquerda da juventude peronista, mais dois militares revezaram-se no poder, o segundo dos quais, Alejandro Agustín Lanusse, decidido a organizar eleições gerais e democráticas. Em 1972, saindo do exílio na Espanha para visitar o país, Perón foi aclamado nas ruas e fundou a Frente Justicialista de Liberación (Frejuli).

Os problemas não se resolveram, antes se agravaram: elegeu-se, em 1973, o peronista Héctor Cámpora, que cedeu o lugar à eleição de Perón e sua mulher Maria Estela, conhecida como Isabelita Martínez, para presidente e vice-presidente da república. Em 1974 morreu Perón, Isabelita assumiu o governo com a economia em crise, atentados terroristas e dificuldades de todo tipo. Os militares não tardaram em voltar à cena política, desta vez com um Processo de Reorganização Social implementado por uma junta presidida, sucessivamente, por Jorge Rafael Videla (1976), Eduardo Viola (1981) e Leopoldo Galtieri (fim de 1981 e meados de 1982).

Galtieri protagonizou o episódio das ilhas Malvinas (para os ingleses, Falkland Islands): mandou as forças armadas ocupá-las, entrou em guerra com a Grã-Bretanha e saiu derrotado, com pelo menos 800 perdas humanas. Com a queda de Galtieri e intensa campanha da opinião pública (inclusive a das mães de desaparecidos, na praça de Mayo, dois anos antes), voltou-se a questionar a repressão da ditadura militar que desmoronava, suas perseguições, torturas, assassínios -- em torno de 15.000 pessoas desaparecidas. Depois da rápida passagem pelo governo do general Reynaldo Bignone, a Unión Cívica Radical elegeu Raúl Alfonsín, que conduziu o processo penal contra os ex-governantes militares, condenados e presos.

Alfonsín, no entanto, não conseguiu conter a inflação, que chegou a mil por cento ao ano em 1985. O governo lançou então um plano econômico de emergência, denominado Austral (nome da moeda que substituiu o peso). Com a inflação novamente descontrolada, nas eleições de 1989 a União Cívica Radical foi derrotada pelos peronistas. O novo presidente, Carlos Saúl Menem, tomou posse em julho daquele ano e desde logo promoveu cortes nos gastos públicos e iniciou um programa de privatização de empresas estatais. Essa política de estabilização teve a oposição dos sindicatos e foi prejudicada pelo contínuo aumento da inflação. Entretanto, em 1991 as medidas tomadas pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo, começaram a dar resultados positivos e a lº de janeiro de 1992 o austral foi substituído pelo novo peso. A estabilização econômica propiciou a reeleição de Menem em 1995.

Instituições políticas
A Argentina é uma república federativa bicameral (Senado e Câmara dos Deputados). Os partidos políticos acham-se devidamente registrados. A constituição de 1853, que persistiu apesar de inúmeras reformas, equilibrou o federalismo com um poder executivo de alta centralização.

De 1949 a 1955 prevaleceu a constituição dita peronista, que alterava a anterior com extensa legislação social e trabalhista e suprimia a cláusula que vedava a reeleição imediata do presidente da república. Tanto este como o vice-presidente são eleitos por sufrágio universal e por um período de seis anos. O poder judicial tem como representante máximo o Tribunal Supremo, com magistrados escolhidos pelo presidente da república e ratificados pelo Senado.

Administrativamente, assim se divide o território argentino: 22 províncias; um Distrito Federal, situado na cidade de Buenos Aires; e um Território Nacional, composto pela Terra do Fogo, um segmento da Antártica e ilhas do Atlântico Sul. Os governadores de província são eleitos. Cada província tem sua constituição, seu Parlamento e seu sistema judicial, que reportam aos poderes centrais.

Sociedade
A organização social argentina distingue-se por uma característica muito particular no panorama latino-americano: compõe-se predominantemente de uma classe média europeizada, com mais de noventa por cento de católicos, padrão de vida e qualificação profissional em progresso e um eficiente sistema previdenciário e de saúde.

O espanhol é o idioma oficial do país, mas sobrevivem algumas línguas e dialetos indígenas. Como ocorreu em tantos outros países hispano-americanos, o espanhol adquiriu, na Argentina, aspectos bastante particulares. Provavelmente por influência do italiano, aparenta maior flexibilidade e fluidez do que nas outras terras de colonização espanhola. A língua indígena mais importante é o guarani, falado na região da Mesopotâmia. Destacam-se ainda o diaguita e dialetos araucanos. Em Buenos Aires, o vocabulário popular incorporou palavras de origem italiana, termos de gíria ligados às corridas de cavalos e ao tango e um sotaque rural, dando origem ao lunfardo, que desfruta de grande autonomia em relação ao espanhol.

Na passagem da década de 1980 para a de 1990, a população argentina, apesar das sucessivas crises econômicas e político-administrativas, manteve uma taxa de mortalidade infantil significativamente baixa para os padrões ainda encontrados na América do Sul, sendo também superiores aos desses outros países seus índices de expectativa de vida e de consumo de calorias e proteínas per capita. Buenos Aires continua sendo a capital e o eixo econômico do país, mas em 1987 o Congresso Nacional aprovou uma proposta do executivo para mudança da capital para Viedma-Carmen de Patagones. 

Cultura
Literatura
A literatura argentina é uma das mais importantes entre as hispano-americanas. Sua riqueza baseia-se menos em grandes nomes -- apesar de Sarmiento, Borges e Cortázar serem universalmente conhecidos --, do que em sua estrutura interna. Assim como grande parte da América espanhola, a Argentina sempre manteve relações culturais muito intensas com a Europa, da qual acompanhou todas as correntes e tendências. Esse europeísmo, no entanto, foi historicamente contrabalançado por um forte regionalismo, numa dialética que conviveu com outra ainda mais acentuada: a rivalidade entre a capital cosmopolita e as províncias rurais. A esses contrastes a Argentina deve a diversidade de sua criação literária.

Origens
Martín del Barco Centenera escreveu, em 1602, uma epopéia denominada Argentina, que deu o nome à província. Luis de Tejeda foi o primeiro poeta nascido na Argentina. Um século e meio mais tarde, a Memória sobre el estado rural del río de La Plata, do espanhol Félix de Azara, deu testemunho da pobreza e do atraso da colônia. Em 1783 foram fundados em Buenos Aires o primeiro jornal e o primeiro teatro, palcos da atividade literária de Manuel José de Lavardén, pecuarista afeito a leituras européias. Sua Oda al majestuoso río Paraná, na forma dos classicistas espanhóis, é considerado o primeiro poema genuinamente argentino.

A revolução de 1810, pela qual a Argentina se tornou independente da Espanha, produziu uma plêiade de poetas patrióticos. Juan Cruz Varela, poeta oficial do presidente Rivadavia, traduziu Virgílio e escreveu as tragédias Dido e Argia. Exilado no tempo de Rosas, refugiou-se em Montevidéu. Sua ode El 25 de mayo de 1838 é o último poema argentino no estilo neoclassicista espanhol. José María Paz, combatente cordobês contra os rosistas, ofereceu, com suas Memorias póstumas, um quadro mais realista da guerra contra Rosas que as diatribes e lamentações de seus contemporâneos românticos.

Romantismo
A queda do governo de Rivadavia e o início da ditadura de Rosas coincidiram com a primeira grande importação literária para a Argentina: o romantismo francês, por meio de Esteban Etcheverría, autor do poema Elvira o la novia del Plata e de El dogma socialista, programa dos românticos anti-rosistas agrupados na Asociación de Mayo. José Mármol, também perseguido pela ditadura de Rosas e exilado em Montevidéu e no Chile, foi um dos primeiros românticos argentinos e tido como um dos maiores poetas da "geração dos proscritos". No romance Amalia, sua obra mais importante, entrelaça uma história de amor à história da conspiração contra o ditador.

O maior dos românticos argentinos, dentre os tantos que buscaram refúgio nos países vizinhos contra a perseguição de Rosas, foi Domingo Faustino Sarmiento, cuja obra Civilización y barbarie; vida y obra de Juan Facundo Quiroga é, ao mesmo tempo, estudo sociológico, manifesto político e biografia romanceada. Tão grande estadista quanto escritor, Sarmiento foi o verdadeiro vencedor na luta contra Rosas. Seu companheiro de exílio Juan Bautista Alberdi, embora tenha participado da redação da constituição de 1853, não integrou o governo Sarmiento e passou o resto da vida entre o Chile e a Europa.

O novo romantismo francês, representado por Victor Hugo, poeta da burguesia liberal, inspirou a nova geração de poetas românticos argentinos, em cuja obra apareciam também os primeiros traços do parnasianismo à maneira de Leconte de Lisle. Olegario Andrade, autor de poemas épicos que podem parecer antiquados ao leitor moderno, foi considerado em sua época o maior do continente americano no gênero. Carlos Guido y Spano, cujas principais obras são Hojas al viento e Ecos lejanos, foi precursor dos parnasianos. Na elegia Nenia, que consta de todas as antologias de poesia hispano-americana, lamenta a derrota do povo paraguaio.

A poesia regionalista e patriótica cultivada por Rafael Obligado teria escandalizado os românticos da Asociación de Mayo. Sua obra mais festejada foi o poema Santos Vega, tradiciones argentinas. O tema gauchesco é essencialmente cômico em Estanislao del Campo, que o retoma magistralmente no poema Fausto, para descrever as emoções de dois gauchos ao assistir a uma representação do Fausto, de Gounod. José Hernández compôs Martín Fierro, o mais original poema épico da literatura do novo continente e possivelmente a maior obra da literatura argentina.

Naturalismo
Os historiadores argentinos costumam falar numa numa geração literária da década de 1880, a primeira, depois dos românticos, a refazer o contato com a Europa e empreender uma moderada oposição ao ambiente ainda provinciano. Seu mentor foi Paul Groussac, imigrante de origem francesa e crítico severo da produção científica e literária da Argentina de então. Diretor da Biblioteca Nacional por um período, atacou sem complacência todos os aspectos da vida argentina. Com Julián Martel, pseudônimo de José María Miró, o naturalismo inspirado em Zola ganhou seu primeiro autor na Argentina, que publicou La Bolsa, uma sátira à Buenos Aires de seu tempo. O último naturalista argentino é Roberto Payró, que superou as limitações do dogma literário de Zola. Além de romances históricos, escreveu contos publicados sob os títulos El casamiento de Laucha, Pago chico e Divertidas aventuras del nieto de Juan Moreira.

Modernismo
A renovação radical da literatura argentina no início do século XX ligou-se à prosperidade econômica do país, grande exportador de carne e trigo para a Europa, e à imigração em massa, sobretudo de italianos. Os latifundiários enriqueceram e surgiu entre eles uma elite europeizada, sensível aos valores artísticos. A imigração européia transformou Buenos Aires numa metrópole cosmopolita, convulsionada por problemas sociais. Nesse contexto, o nicaragüense Rubén Darío lançou a moda poética do modernismo.

Leopoldo Lugones, autor de Las montañas de oro e Los crepúsculos del jardín, é tido como um dos grandes poetas e o maior dos modernistas argentinos. Sua obra de vanguarda, ilustrada principalmente pelos poemas de Lunario sentimental, sofreu uma mudança radical em direção a uma temática regionalista e patriótica, que acompanhou o giro à direita de suas convicções políticas. Manuel Gálvez teve uma trajetória política e literária semelhante à de Lugones. Antes de adotar o catolicismo e o hispanismo conservador, escreveu romances naturalistas como El mal metafísico e Historia de arrabal, que caracterizam a Argentina moderna. Evaristo Carriego, pouco admirado em vida, foi descoberto pelas gerações posteriores como o grande poeta de Buenos Aires. Em Misas herejes, Viejos sermones, El alma del suburbio e La canción del barrio reage ao preciosismo e à grandiloqüência com uma poesia da vida cotidiana, dos bairros e do tango.

Pós-modernismo
O modernismo, que não teve raízes na mentalidade argentina, revelou uma tendência a se transformar em poesia acadêmica e oficial. Acadêmica é a poesia de Ricardo Rojas, também crítico e historiador da literatura argentina; de Rafael Alberto Arrieta e de Arturo Capdevila. O mestre do soneto parnasiano Enrique Banchs, que publicou apenas quatro livros, é considerado por alguns críticos como o maior lírico da literatura portenha. A poesia subjetiva de Alfonsina Storni constitui um libelo contra os preconceitos sociais e confere um traço original à poesia erótica argentina. Baldomiro Fernández Moreno cantou a cidade de Buenos Aires com perfeição parnasiana e foi prolífico em sonetos, entre os quais se destaca pela originalidade o "Soneto de tus vísceras".

Florida e Boedo
Depois do final da primeira guerra mundial, a dissolução dos valores tradicionais levou a cena literária argentina a um enfrentamento protagonizado por dois grupos antagônicos. O Florida, integrado por vanguardistas, estetas e conservadores, teve como porta-voz as revistas Proa e Martín Fierro. Boedo, o grupo dos realistas, jornalistas e socialistas, publicavam Claridad. O maior nome do grupo Florida é Jorge Luis Borges, autor de alguns dos mais impressionantes contos fantásticos da literatura universal, mas cuja importância para a história da literatura reside na poesia que domina a primeira fase de sua carreira. Borges trouxe para a Argentina os processos poéticos da vanguarda espanhola, introduzindo no país o movimento ultraísta, nascido na Espanha e ligado ao dadaísmo francês. O mais importante seguidor de Borges é Adolfo Bioy Casares, romancista que reúne o gênero policial à ficção científica. Outros membros do Florida foram Macedonio Fernández, Oliverio Girondo e González Lanuza.

O grupo de Boedo definiu-se mais pela tendência que pelo estilo. O estudante Héctor Ripa Alberdi, líder da revolta estudantil de 1918, manifestou ainda em versos tradicionais o novo idealismo vagamente socializante. Outros dos escritores mais conhecidos do grupo foram Álvaro Yunque e Elías Castelnuovo, cujo desprezo pela forma os deixou em desvantagem em relação ao grupo de Florida. O maior dos escritores do Boedo foi, no entanto, Roberto Arlt, influenciado pela crítica social dos escritores americanos e pela leitura dos grandes autores russos.

Época atual
Subsistem na literatura argentina contemporânea, sob outros nomes, a influência dos grupos Florida e Boedo. Ricardo Molinari, que pertenceu ao primeiro desses grupos, é um dos grandes poetas da atualidade. O poema Juan Nadie, vida y muerte de um compadre, de Miguel Etchebarne, foi proclamado por Borges a realização total do ultraísmo argentino. A outros, no entanto, o movimento parece definitivamente sepultado. Daniel Devoto experimentou formas inovadoras, Antonio di Benedetto segue a receita do nouveau roman francês e María Elena Walsh confessa a influência de Rimbaud. Ernesto Sábato, intelectual e crítico, cria personagens tipicamente argentinos que enreda em tramas psicológicas de inspiração surrealista. Julio Cortázar, que é discípulo literário de Borges, se encontra politicamente no campo oposto. A alteração dos limites temporais e espaciais no texto realista fez dele um dos renovadores da narrativa do século XX, para a qual contribuiu com obras magistrais como Rayuela e Libro de Manuel. O mais popular dos escritores argentinos da atualidade talvez tenha sido Manuel Puig, que viveu em Nova York, no Rio de Janeiro e no México. Alguns de seus romances -- Boquitas pintadas, O beijo da mulher aranha -- foram adaptados para cinema e teatro com grande êxito.

Artes plásticas
Na arquitetura, como nas outras artes, os argentinos procuram sua própria fisionomia. Do barroco espanhol e dos edifícios de influência italiana ou francesa chegaram à contemporaneidade de Amancio Williams que, a partir de Le Corbusier, lançou as bases de um estilo urbano que refletia e incorporava as características nacionais. Na pintura e na escultura, os começos vêm igualmente da Europa, mas já na segunda metade do século XIX a litografia de um Carlos Morel é toda de inspiração nacional.

No início do século XX essa fidelidade se acentua nas obras de Bernaldo de Quirós e Fernando Fader, impressionistas, enquanto se assimilam as novas técnicas e tendências. Nas últimas décadas, o surrealismo do grupo Orión, a arte abstrata e a arte concreta adquiriram expressões originais, particularmente nos trabalhos de Tomás Maldonado e Raúl Soldi.

Música
O tango é, talvez depois do jazz, a mais valiosa manifestação da música popular urbana do século XX. Sua importância para compositores como Stravinski, e a arte de Astor Piazzolla o confirmam. Nos gêneros sistemáticos, a música argentina principia com Francisco Hargreaves, autor de La gata blanca, primeira ópera nacional.

O movimento nacionalista surge pouco depois com Alberto Williams (Aires de la pampa) e cresce com Julián Aguirre, Carlos López Buchardo, Floro Ugarte, Manuel Gómez Carrillo, Constantino Gaito, Honorio Siccardi. O Grupo Renovación representa a busca de novas técnicas, destacando-se em seguida Roberto García Morillo, Carlos Suffern, Roberto Caamaño, Antonio Tauriello e sobretudo, Alberto Ginastera, internacionalmente reconhecido.

Cinema
O cinema argentino desde seus primeiros passos trabalhou com a cultura gaucha e portenha. Começou pelas mãos de um francês, Eugenio Py, autor de documentários sobre o país. No decorrer do século, com apoio oficial, tornou-se um dos mais significativos dos países latino-americanos. Depois dos pioneiros Eugenio Cardino e Mario Gallo, o primeiro sucesso popular foi o filme Nobleza gaucha (1915), do trio Humberto Cairo, Eduardo Martínez de la Pera e Ernesto Gunche, inspirados no poema Martín Fierro.

A maturidade veio com as obras de Maglia Barth, Mario Soffici, Manuel Romero, Luis Saslavski, Hugo del Carril, Leopoldo Torres Ríos. Do final da década de 1950 em diante, Leopoldo Torre-Nilsson (filho de Torres Ríos), Fernando Ayala, Fernando Solanas e outros cineastas renovaram e aprofundaram os caminhos da arte cinematográfica argentina, que ultimamente ainda produziu filmes como Camila (1984) de María Luisa Bamberg e La historia oficial (1985), de José Luis Puenzo.

Pensamento
Os pensadores jesuítas da Universidade de Córdoba, no século XVII, desenvolveram as idéias de Francisco Suárez e o pensamento escolástico, que viriam a ter uma longa linha de continuidade com as filosofias cristãs e neotomistas. No século XVIII, difundiram-se as idéias do iluminismo europeu. Montesquieu, Rousseau, Locke, Leibniz e Hume encontraram seguidores como Cayetano Rodríguez e Elias del Carmen Pereira. A influência francesa tornou-se mais acentuada depois da independência, quando os argentinos se dispuseram a pesquisar a natureza e as raízes filosóficas de sua nacionalidade.

O pensamento argentino não se limitou a reproduzir e desenvolver os grandes sistemas filosóficos europeus, mas imprimiu uma marca original às idéias nascidas nas grandes metrópoles culturais. Esteban Etcheverría foi a maior expressão nacional do pensamento utópico; Domingo Faustino Sarmiento, do naturalismo; Juan Bautista Alberdi, do empirismo e Carlos Astrada, do materialismo dialético. Cabe mencionar o historiador da filosofia Rodolfo Mondolfo, o evolucionista José Ingenieros e o personalista Emilio Estiú.

Dentro da atividade intelectual cumpre ainda destacar o importante trabalho de pesquisa científica desenvolvido por argentinos, especialmente na área da matemática (Rey Pastor e Enrique Butti), da química (Luis Leloir, Prêmio Nobel de 1970), da medicina (Bernardo Houssay, Prêmio Nobel de 1947, e mais Enrique Finochietto e Gregorio Aráoz Alfaro) e da filosofia da ciência (Mario Bunge).

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